A última entrevista para o livro
Ontem, segunda-feira, acredito ter feito a última entrevista que faltava para o meu livro. Falei por ligação de Whatsapp com Preta Pereira, esposa do discotecário Claudinho. Ela foi a divulgadora da Ariola em Porto Alegre no breve período de existência da gravadora. Foi para o endereço dos Pereira que o então Governador Amaral de Souza enviou um telegrama parabenizando Kleiton e Kledir pelo sucesso em 1981. Isso em março, ainda antes do lançamento do segundo LP e do estouro de "Deu Pra Ti".
A primeira entrevista eu fiz no dia 28 de abril de 2019, às 17 horas, com Gilnei Silveira, ex-percussionista/baterista dos Almôndegas, em frente ao prédio onde ele se hospedou quando veio a Porto Alegre, na rua Venâncio Aires, para realizar dois shows com o Trio Cambirela (como registrei aqui). Ele mora em Florianópolis. Em todas as entrevistas que gravei, iniciei informado data, horário e local. Mas justamente nessa, me atrapalhei e falei "maio" em vez de abril. De qualquer forma, a data certa pode ser conferida pelo comentário do show aqui no Blog.
Foi por conta desses depoimentos que acabei comprando um smart phone. Uma das entrevistadas, que hoje reside no exterior, começou me dizendo: "Me passa o teu Whats!" Até então, pedidos assim eram invariavelmente respondidos com um seco "não tenho Whatsapp". Mas aí percebi que, se quisesse contar com a boa vontade das testemunhas da história para dividirem comigo suas lembranças, teria que dançar conforme a música. Apenas optei por adquirir um novo número e manter o meu antigo no velho celular pequeno de guerra. É esse que continuo usando quando saio de casa.
No dia 29 de novembro de 2019, entrevistei pessoalmente Ivan Lins e o pessoal do MPB-4 antes da apresentação que realizaram no Araújo Vianna com Toquinho. A última entrevista antes da pandemia, que já se avizinhava, foi com o jornalista Ney Gastal na residência dele, no centro de Porto Alegre, em 11 de março de 2020. Depois disso, veio a reclusão, o medo de pôr o pé fora de casa, a insegurança, a incerteza dos procedimentos corretos e o aprendizado do uso de máscaras. Acabei perdendo o medo de dar minhas saídas, mas os depoimentos que colhi a partir de então não foram presenciais.
E é incrível quanta coisa a gente consegue pela Internet, sabendo procurar. Localizei o fotógrafo Basil Pao, de Hong Kong, que fez as fotos da capa do Circo de Marionetes dos Almôndegas em 1978, e ele me contou por e-mail onde e como clicou aquelas imagens. Achei também o organizador do segundo FUCACA, Festival Universitário da Canção Catarinense, de 1972, e ele me enviou todas as matérias que tinha sobre o evento. Aí pude saber ao certo qual a colocação e premiação de "Teia de Aranha", de Kledir, que os Almôndegas gravariam no primeiro LP em 1975. Foi maravilhosa também a disposição com que os funcionários da Hemeroteca Histórica da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, mediante o depósito de um valor tão irrisório que ficava abaixo do limite mínimo para DOC, pesquisaram e me enviaram as matérias dos últimos shows de Kleiton e Kledir antes do período de separação. Tudo isso e mais algumas entrevistas sem sair de casa.
Inevitavelmente, a primeira versão do livro que enviei a meus biografados sofreu algumas correções. Mas acredito que agora já disponho de tudo que necessito para dar ao texto realmente uma forma final. A seleção das fotos é que ainda pode levar algum tempo. Mas a luz no fim do túnel está logo ali. A última entrevista, ontem, me deixou com uma prazerosa sensação de missão cumprida.