segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Não adianta

No dia 4 de abril de 2006, comentei aqui no blog sobre aquela notícia dos celulares que explodiam enquanto estavam sendo carregados. Disse que tinha todo o jeito de informação falsa daquelas que circulam por e-mail com a observação de que repasse para o maior número de pessoas, exceto por um detalhe: foi divulgada na imprensa, com nome completo da vítima. E concluí que servia de exemplo para a distinção entre notícias verdadeiras e falsas. As verdadeiras não escapam à imprensa.

Pois agora temos outro caso: a senhora que faleceu de ataque cardíaco em conseqüência do telefonema sobre o falso seqüestro. Está na capa da Veja. Que acontecem essas extorsões ou golpes, já se sabia há muito tempo. Mas a morte provocada pelo susto faz parecer aquelas mensagens alarmistas que circulam por e-mail. E, no entanto, é verdade. Não é o e-mail que está dizendo que "deu na imprensa". É a própria imprensa.

Mas não adianta. As pessoas vão continuar repassando indiscriminadamente qualquer bobagem, com a melhor das intenções. Acabei de receber o alerta dos jovens que são seqüestrados nas proximidades de construções e depois, dentro da barriga da vítima, aparece um bilhete plastificado com um aviso de que ela foi infectada "com várias doenças, como tuberculose, mal de Chagas e até HIV positivo"? (Se o vírus ou a doença se chama "HIV positivo", quer dizer que alguém pode se infectar com "HIV negativo"?) A história tem todos os elementos típicos de lenda urbana, mas já deve estar circulando mais do que bolsas rotativas nas mãos de trabalhadoras autônomas do turno da madrugada. Diz que "a polícia pede para repassar para o maior número de pessoas", mas os repórteres, pelo visto, dormiram no ponto e não noticiaram uma só linha.



Um visitante do blog se ofendeu com o que escrevi em meu texto "Burrices do Orkut". Eis o comentário:

Burro mesmo é quem quer impor um padrão para o uso do Orkut. Aquilo é um meio de comunicação de massas. O que pra você é uma "forma burra de se usar o Orkut" pra outro pode ser a mais divertida. Cada um faz o uso que quiser dentro das limitações que o site impõe. Aproveite-o da forma que considera mais proveitosa e deixe que os outros também o façam.

Eu respondi que mantinha minha opinião e ele replicou:

Felizmente sua opinião não é a que vigora. Se fosse ela que valesse, o Orkut não seria o sucesso que é. Cabeças "limitadas", que o usam de "forma burra", fazem dele um fenômeno da Internet.

Ora, o fato de algo ser "sucesso" ou "fenômeno" não é necessariamente um indicativo de inteligência de seus adeptos. Se assim fosse, os telespectadores de "Big Brother Brasil" seriam gênios! O que me deixa inconformado é o desperdício do verdadeiro potencial dos meios. Mas claro que não posso "impor padrões". Nem tenho como impedir a subutilização de nada. Como não podia quando surgiu o videocassete e a maioria o usava somente para assistir a fitas alugadas. Como também não posso evitar que alguém contrate TV por assinatura com mais de 100 canais somente para ter uma melhor imagem da Globo. Mas posso dizer o que penso.