segunda-feira, janeiro 29, 2007

Lembrando Daniella Perez


Atenção: O site "clickgratis" está indicando este post para quem procura uma determinada foto. Não entendi por que critério ocorreu a indicação, mas já adianto: vocês não irão encontrá-la! A turma da curiosidade mórbida pode ir bater em outra porta.

No dia 28 de dezembro de 1992, haveria o julgamento do impeachment de Fernando Collor. Eu sabia que a Globo iria fazer a cobertura ao vivo, então deixei o videocassete gravando e saí para dar uma volta no centro. Especificamente, fui a uma locadora de videodisco na Rua Coronel Vicente. Hoje a loja a ainda existe, mas somente como revenda de equipamentos de som. Quando cheguei lá, havia um televisor ligado. E bem na hora em que eu estava no balcão, apareceu a notícia de que a atriz Daniella Perez havia sido assassinada aos 22 anos. O suspeito Guilherme de Pádua já estava detido.

Acabei gravando todos os noticiários e reportagens sobre o crime. Pode parecer um interesse mórbido e com certeza é um assunto que deve fazer mal aos parentes e amigos da atriz. Mas os entes queridos de Getúlio Vargas, John Lennon, Elis Regina, Tancredo Neves e tantas outras celebridades também sofreram e isso não diminuiu o interesse e a cobertura de suas mortes. O falecimento de pessoas famosas é sempre notícia, principalmente quando ocorre de forma trágica. Qualquer registro que se preserve desses eventos, queiramos ou não, é um documento histórico. E eu estou passando essas gravações para DVD.

Além das notícias, gravei também alguns capítulos da novela "Corpo e Alma", em que Daniella Perez fazia o papel de "Yasmin". O fato de que, quando um ator de novela morre, o personagem também desaparece, mostra o zelo que o brasileiro tem por esse gênero de programa. Em 1986, um amigo que estava para vir a Porto Alegre perguntou o que eu gostaria que ele me trouxesse dos Estados Unidos. Como ele morava lá, pedi que gravasse seis horas de programação da TV americana. Numa época em que ainda não tínhamos TV a cabo, um material desses era precioso para mim. Ele acabou mandando duas fitas e, no meio de tudo, havia uma novela americana. Em determinada cena, ouviu-se uma voz em off: "Por motivo de doença, o papel tal será representado pela atriz Fulana de Tal". E seguiu o baile. Mesmo nas séries de TV eles não têm o menor escrúpulo em substituir atores. Os casos mais memoráveis foram do marido de Samantha em "A Feiticeira" e o personagem principal de "Justiça Final", o juiz Nicholas Marshall.


No Brasil houve pelo menos um caso de personagem de novela que continuou vivendo na pele de outro ator. Em 1972, Sérgio Cardoso faleceu quando a novela "O Primeiro Amor" estava mais ou menos na metade. Em seu lugar entrou Leonardo Villar. Foi ali que tomei conhecimento de que uma cena aparentemente contínua podia ser gravada ao longo de vários dias. A interrupção aconteceu no meio de uma discussão entre o "Professor Luciano" (Sérgio Cardoso) e outro personagem. De repente, mostrou-se um par de óculos sobre uma cadeira e a luz se apagou. A seguir, todo o elenco da novela apareceu perfilado em plano geral enquanto Paulo José (o Shazan que, ao lado de Flávio Migliaccio, formava a dupla Shazan e Xerife) dizia: "Esta foi a última cena, gravada no dia tal a tal hora..." Depois de falar brevemente sobre a morte de Sérgio Cardoso, Paulo José disse que ele seria substituído por um colega e amigo. "O ator, o amigo, é Leonardo Villar, que a partir de agora passa a viver o papel de Professor Luciano." E com essas palavras, Leonardo entrou e posicionou-se à frente dos demais atores. Em seguida, a discussão do Professor Luciano continuou do ponto em que havia parado. Outro caso de troca de atores que hoje ninguém lembra foi na "Grande Família" original: Saiu Djenane Machado e entrou Maria Cristina Nunes no papel de Bebel. Mas como era um programa de humor, a substituição foi comentada no próprio episódio. Já em 1982, a morte de Jardel Filho levou junto o Heitor da novela "Sol de Verão".

A cena excluída que o "Globo Repórter" mostrou

A solução para justificar o sumiço de Yasmin da novela "Corpo e Alma" foi um tanto forçada, mas contou com a benevolência do público. A personagem de Daniella Perez se mudou para o Caribe para estudar dança. Sua última cena foi chorando e olhando para uma foto que, graças à edição, foi mostrada como sendo a de Fábio Assunção (ainda que a imagem dele fosse apenas um quadro de vídeo congelado em preto e branco). Mas por que a cena havia sido gravada? Não foi explicado, mas é fácil presumir. O "Globo Repórter" daquela semana exibiu uma cena tensa entre Daniella Peres e Guilherme de Pádua que acabou não sendo incluída na novela. Yasmin e Bira desmanchavam o namoro. Tudo indica que a foto para a qual Yasmin olhava com lágrimas nos olhos deveria ser a de Bira. Ele também sumiu sem muita explicação. Uma ironia é que, na semana do crime, foi ao ar um capítulo em que Tarcísio Meira contava a seu filho Maurício Branco como lhe pesara na consciência uma condenação que obtivera em seu tempo de promotor. Tempos depois o mesmo personagem, como professor de Direito Penal, questionava perante seus alunos a figura do réu primário. Daniella era filha da autora, Glória Perez, que aproveitou a novela para reforçar sua campanha pela prisão dos acusados.

Por enquanto ainda não tenho como digitalizar imagens para postar no YouTube, mas outros já o fizeram. Vejam a despedida dos atores a Daniella logo após sua última participação na novela e também o texto em homenagem à atriz redigido por sua mãe e lido por Stênio Garcia ao final do último capítulo.

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Eu adorava a Dany! Posta os vídeos dela que você tem no Youtube, por favor. É uma raridade hoje em dia.

8:58 AM  

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