O velho e o novo
Não me considero avesso a novidades. Basta dizer que tive videodisco numa época em que muita gente nem sabia o que era isso (e muitos nem chegaram a conhecer). Cheguei a apostar que a fita de 8mm seria o futuro da gravação em vídeo, mas errei a previsão. Quando começaram a aparecer as primeiras reportagens sobre DVD, fiquei cético. Eu tinha algum conhecimento sobre as limitações do vídeo digital e não acreditei que o novo formato pudesse ter boa qualidade de imagem. A do videodisco não era digital, mas era perfeita. Se fosse para trocar uma mídia por outra sem melhora no resultado, eu não veria muita vantagem. Escrevi sobre isso para uma revista americana de vídeo e minha carta foi publicada. Tempos depois, recebi um e-mail de um conterrâneo dizendo que tinha lido a revista mas não concordava comigo e que meu discurso lembrava os conservadores que defendiam o LP contra o CD. Talvez eu tenha me expressado mal, mas não era nada disso. Apenas eu queria ver a imagem primeiro. Hoje estou verdadeiramente fascinado pelo DVD, mas ainda luto contra o que eu chamo de "novidadismo", que é a presunção de que o novo é sempre melhor do que o velho. Ou de que o digital é sempre superior ao analógico. Depende dos detalhes técnicos. Em termos de fotografia, eu ainda prefiro o slide. Mas me reservo o direito de achar que é porque eu entendo um pouco do assunto e penso que os pixels ainda não superaram a granulação da prata. Não vai muito longe: o cinema profissional ainda usa película.
Do vinil, não tenho saudade nenhuma. Eu já sentia falta de um substituto para o LP muito antes de o CD existir. Muito sofri com prensagens desalinhadas, empenamentos, bolhas, desgastes e arranhões. Por mais que eu cuidasse dos discos, inclusive trocando a agulha do toca-discos com mais freqüência do que lavava meu carro, era impossível não desgastar os sulcos a cada escutada. Há quem diga que o vinil tem som melhor, mas a taxa de amostragem do CD resulta num som mais do que satisfatório para meus ouvidos. Eu lamento que o CD não existisse já na minha adolescência. Assim eu teria meus discos todos bem conservados.
Também não lastimo o desaparecimento da máquina de escrever. Nunca fui um grande datilógrafo. Em geral, escrevia com calma, para não errar. Mas às vezes falhava. Aí, o procedimento de correção era tão trabalhoso que, dependendo do tamanho do documento, valia mais a pena começar tudo de novo. Mais ainda no caso de múltiplas vias com carbono. Hoje, com o editor de texto, tornei-me um ótimo digitador. Liberado pela certeza de que um caractere mal teclado pode ser corrigido numa fração de segundo, digito com rapidez, olhando para a tela. Também prefiro o e-mail às cartas convencionais de outrora. Internet, então, nem se fala. Duvido que alguém seja mais fã da rede do que eu.
Voltando à fita VHS, ela também clamava por um substituto. Era frágil, incômoda, tinha acesso seqüencial, precisava ser rebobinada e, como viria a se descobrir mais tarde, podia mofar. O videocassete, em sua finalidade primeira, já tem um sucessor à altura, que é o gravador de DVD com HD. Inclusive com sintonizador de canais, para se gravarem programas da TV. Mas o que já está registrado em VHS precisa ser preservado. Daí a necessidade de um limpador de fitas, em alguns casos.
Mesmo com o advento do "home video", eu sinto uma nostalgia pelo Super-8. A mecânica era diferente. Nada substitui a emoção de colocar um rolo de filme no projetor, apagar a luz e iniciar a sessão. Cheguei a importar dois rolinhos de Super-8 para filmar meu filho. Depois, enviei pelo correio para os Estados Unidos para revelação. Meu filho é da geração VHS, mas teve sua imagem eternizada em Super-8.
Então que fique bem claro: não sou contra as inovações. Só acho que nem tudo o que vem depois justifica o desaparecimento do que existia antes. O vinil já foi tarde, a máquina de escrever também, a fita VHS está com os dias contados, mas se dependesse de mim, ainda teríamos a opção de usar Super-8 e slides. Isso não significa rejeição do novo, mas a manutenção simultânea do que é velho e bom. Se inventassem a mulher digital, vocês descartariam a analógica (de carne e osso) como antiquada? Então...
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