quarta-feira, março 11, 2015

Flashback

Em 1981 eu tinha 20 anos e estava reunindo a documentação para começar a trabalhar. Precisei de uma segunda via de minha Certidão de Nascimento. Achei curioso que meu pai ainda lembrava o Cartório em que havia feito o registro, inclusive o número da zona. Depois de tanto tempo! Eu já contava duas décadas de vida e ele não tinha esquecido sequer o endereço.

Pois hoje foi a minha vez. Retornei ao cartório em que registrei o Iuri, 21 anos depois. Ainda era no mesmo endereço e tudo igual por dentro. Lembrei-me daquele dia, em janeiro de 1994, quando fui mandar fazer a certidão dele. Parece que foi anteontem. Nestes momentos, entendo por que os mais velhos de minha família me veem como criança até hoje. Para eles, faz pouco tempo que eu nasci. Pois ali estava eu, de novo, no mesmo local, relembrando a emoção de ser "pai fresco". Como a paternidade era uma experiência totalmente nova para mim, tive uma sensação estranha ao ler no final da certidão: "foi declarante - o pai". Pensei comigo mesmo: incrível, este sou eu. "Pai." Que responsabilidade!

Aí pinta um "flashback" e acabo lembrando de tudo. Havia o som de uma emissora FM na sala de parto. A última música a tocar antes do nascimento do Iuri foi "Noites com Sol", de Flávio Venturini. O locutor anunciou "cinco horas" (da tarde) e minha então esposa prestou atenção e repetiu. Meu filho nasceu às 17 e 5, horário de verão. Eu o vi antes da mãe dele. Quando ela me perguntou com quem ele era parecido, respondi, com sinceridade: "Acho que com teu pai!" Mas era casualidade. Recém nascido, ainda bem vermelho e com o rosto marcado pelo parto normal, ele se assemelhava bastante com o avô, de descendência italiana. A similitude não duraria muito tempo. Como tremia, coitadinho! Isso que era verão. Ainda não existia máquina fotográfica digital, então eu o fotografei com minha velha Zenit, sem flash, com filme de alta sensibilidade. 

Enfim, desta vez eu precisava de uma certidão atualizada dele. E consegui. Às vezes, quando passo na frente do Hospital Mãe de Deus, me recordo de quando ele saiu de lá, após nascer. Eu levei a ele e à mãe dele no meu carro. Cuidei para que a cabeça dele não batesse, na entrada. O nascimento do Iuri foi um dos momentos mais bonitos da minha vida. Os contratempos que enfrentamos depois não maculam em nada essa recordação. Mesmo porque, até hoje, ser pai dele é uma missão gratificante e enriquecedora.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Maravilha Emílio! É bem isto! Quando me perguntam qual foi o momento mais emocionante, mais marcante da minha vida, não pestanejo em dizer: quando nasceu meu filho!
Lasek

12:37 PM  

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