Duas valas comuns
Mesmo assim, não se pode negar que o impeachment de Collor reforçou a cultura derrubista que está historicamente impregnada na política brasileira. Criou a falsa ideia de que, se quisermos tirar um presidente, é muito fácil: basta sair às ruas e protestar. Também são poucos os compreendem como e por que ocorre um impeachment, acreditando ser um mecanismo prontamente disponível para afastar um governante a bel-prazer. Depois do "fora Collor", ouviu-se "fora FHC", "fora Lula" e, por fim, "fora Dilma". Em países habituados ao exercício da democracia, os protestos dizem: "não reeleja". Aqui, querem derrubar na marra. Se deu certo com Collor, por que não com outros?
Em tese, é possível ser contra a Dilma, contra o PT e a favor da democracia. Na prática, o que se observa são duas grandes valas comuns em posições antagônicas. A defesa do estado democrático e o repúdio a ânimos golpistas acabam recaindo somente na ala dos que apoiam a presidenta. Mesmo que algum opositor respeite o atual mandato, sua opinião não encontrará guarida em meio à polarização. E do outro lado existe uma gana tão ensandecida em virar a mesa que muitos desejam que isso seja feito a qualquer custo, sem pensar nas consequências. Isso é muito grave.
As investigações da Operação Lava Jato estão sendo encaradas por muitos como uma disputa entre os dois lados. Façam suas apostas: que partido terá mais nomes incriminados? Quem sairá mais enlameado? A resposta óbvia, que a maioria se recusa a perceber, é: o Brasil. Todos sairemos perdendo.
De minha parte, não estou preocupado especificamente com o que acontecerá com Dilma, com o PT ou com os acusados. Que se faça justiça, independente do partido. Não sou a favor da impunidade. Mas estou, sim, preocupadíssimo com algumas mensagens precipitadas e equivocadas que tenho visto em redes sociais. Rezo para que o direito de protesto seja exercido com maturidade e civilidade. O Brasil tem que aprender a viver numa democracia, com seus prós e contras, para não andar mais em círculos.
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