Acabo de ouvir em sequência dois audiobooks sobre a vida de
Frank Sinatra: "The Unauthorized Biography of Frank Sinatra", de
Kitty Kelley, e "Sinatra: The Life", de Anthony Summers e Robbyn Swan.
O segundo teve uma tradução para o português lançada no Brasil recentemente. No
quesito narrativa, Kelley é imbatível. Ela valoriza ao máximo cada história,
conduzindo o leitor (ou, no meu caso, o ouvinte) passo a passo ao desfecho, com
total suspense. O esforço de Sinatra para conseguir um papel em "A Um
Passo da Eternidade", a expectativa de vencer o Oscar de Melhor Ator
Coadjuvante, o processo contra o cantor por admitir um criminoso barrado em seu
cassino, a viagem de avião que culminaria na morte de sua mãe, tudo isso é
descrito com detalhes. Já o livro de Summers e Swan resume esses fatos em
poucas frases.
Por outro lado, a autora se concentra de tal forma no
envolvimento de Sinatra com o crime organizado que acaba descuidando do
principal elemento de sua carreira: a música. Ela cita de passagem a gravadora
Reprise sem contar como e quando foi fundada. Também o grande sucesso de
Sinatra ao final dos anos 60, "My Way", é apenas mencionado como
parte do show de "despedida" em 1971. Summers e Swan não pecam por
essas omissões e vão além, registrando a importância de "New York, New
York" na revitalização da carreira do artista. Eles falam ainda no show no
Maracanã em 1980, em que inclusive o cantor esqueceu a letra de "Strangers
in The Night" e a plateia continuou cantando a música, em inglês, numa
atitude que o emocionou. Outra vantagem da segunda obra é a de ter sido escrita
após o falecimento de Sinatra, incluindo seus últimos dias de vida na luta
contra o Alzheimer. O livro de Kelley foi publicado originalmente em 1986 e teve
tal repercussão a ponto de ser citado pela segunda biografia como parte da
história de Sinatra. Mas, aparentemente, nunca foi atualizado.
A influência de gângsteres na carreira de Frank Sinatra é
abordada nas duas publicações. E é curioso observar os comentários revoltados
de fãs no site da Amazon por esse enfoque, sem perceber que essas passagens da
vida do ídolo não podem ser ignoradas. No entanto, não se pode negar que
Summers e Swan parecem lançar suspeita de influência criminosa sobre todas as
conquistas do cantor a partir de certo momento. Kitty Kelley, por exemplo,
aceita a explicação do diretor de que não
houve qualquer interferência externa na escolha de Frank Sinatra para o cast de
"A Um Passo da Eternidade". O livro mais recente questiona esse
desmentido.
Numa pesquisa rápida, não verifiquei a existência de nenhum
livro focalizando especificamente a obra musical de Sinatra.* Isso, sim, seria
bem-vindo, algo como uma discografia comentada. Até se encontra uma obra sobre
os filmes. Frank Sinatra foi um sujeito de temperamento explosivo, que não
tolerava ver suas vontades contrariadas e não tinha escrúpulos de acionar seus
amiguinhos do submundo para satisfazê-las. Declarou guerra à imprensa pelas críticas ao seu
trabalho ou reportagens investigativas que foram publicadas. Seu amor por Ava
Gardner, que foi uma de suas esposas, levou-o às raias da loucura por ciúme.
Mas seu legado de interpretações belíssimas é o que fica para apreciação dos
fãs.
*P.S.: Existem, sim, livros sobre a música de Frank Sinatra. Vejam aqui.
4 Comments:
Emilio, o livro de Kitty Kelley saiu no Brasil, mais ou menos na época do lançamento. Como eu sei? Minha mãe, Sinatrologa desde criancinha, comprou... não sei se você já tinha essa informação ou não, já que só cita o lançamento recente do outro livro. Imagino que seja achável nas Estantes Virtuais da vida...
Realmente não sabia, valeu pela informação. Eu lembro da edição em inglês sendo vendida na saudosa livraria Papyrus aqui em Porto Alegre. Eles tinham vários exemplares.
O que me chama atenção no livro de Kelley é que ela ODEIA Sinatra. Tudo bem que ele fez de tudo para trancar o livro (sorte dela que estava nos EUA, fosse no Brasil ele teria conseguido), mas ela reconhecer que ele era talentoso de tempos em tempos ajudava, ela parece sempre estar tecendo comentários sobre os motivos dele fazer sucesso, e quase nenhum tem a ver com música... nisso concordo com o Ruy Castro, tudo bem dele não saber escolher os amigos, ele sabia escolher gente mais importante, como os arranjadores e produtores...
Olha, eu que estou acostumado a ler biografias não autorizadas não tive essa impressão. Claro que ela não o leva de compadre, mas daí a ODIAR, acho que não é bem o caso. O livro mais recente é bem mais tendencioso no sentido de que o sucesso dele foi movido a apoio do crime organizado.
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