domingo, dezembro 18, 2011

Erasmo mantém o pique

Por mais canções românticas que já tenha composto com Roberto, por mais que os anos lhe marquem o rosto, Erasmo sempre faz questão de se apresentar nas entrevistas como um roqueiro. Roqueiro seminal, da gema, um dos fundadores do rock brasileiro. Ao abrir seu show de ontem, em Porto Alegre, no teatro do Bourbon Country, com uma versão turbinada de "Kamasutra", ele mais uma vez reivindica esse título. Acompanhado de uma banda jovem, tendo como base os três integrantes do grupo Filhos da Judith, o Tremendão dá ao público o que ele quer – canções velhas e conhecidas – mas sem abrir mão de sua postura rebelde. E assim se ouvem "Sou Uma Criança, Não Entendo Nada", "Filho Único", "Mulher (Sexo Frágil"), "Minha Superstar", "Gatinha Manhosa", "Sentado à Beira do Caminho", "Vem Quente Que Eu Estou Fervendo", "É Proibido Fumar", "Quero Que Vá Tudo Pro Inferno", "Pega na Mentira" e "Festa de Arromba". Há também um momento mais intimista em que Erasmo canta um medley de suas parcerias românticas com Roberto, acompanhado somente do tecladista.

Simpático e carismático, o músico conversou bastante com o público, sempre com bom humor. Um dos instantes mais hilários da noite foi o relato de Erasmo antes de cantar "Panorama Ecológico". Ele disse mais ou menos o seguinte: "Nos anos 70, quando eu e o Roberto começamos a compor músicas sobre preservação da natureza, a gravadora não gostou. As mulheres querem ouvir músicas românticas, ninguém quer saber das baleias. Baleia não compra disco! Anos depois, quando o Sting e o Bono Vox começaram a dizer the world rldnorln... [manda ver um impagável 'embromation'], aí as pessoas prestaram atenção e disseram: é mesmo, a gente tem que se preocupar com o mundo!"

Outro destaque da noite foi "É Preciso Saber Viver" com participação do quinteto de cordas da PUC de Porto Alegre. O telão ao fundo do palco valorizou bastante o visual do show, com imagens concretas e abstratas, inevitavelmente concluindo com alusões aos velhos e bons tempos da Jovem Guarda. Uma surpresa foi quando, durante a apresentação de "Cover", apareceu no palco um sósia de Roberto Carlos, distribuindo rosas e tudo. Ah, sim, o show se chama "Sexo e Rock and Roll" combinando os nomes dos dois últimos CDs de Erasmo. O rock sempre esteve presente em seu trabalho. Já a celebração do sexo se manifestou nas canções do seu álbum mais recente, entre elas "Apaixocólico Anônimo" e a já citada "Kamasutra". Erasmo não perdeu a forma. Com 50 anos de carreira, ainda monta uma apresentação vibrante e incendiária, agradando a várias gerações de fãs.


Adivinhem que música ele estava cantando?






Aqui o vídeo da apresentação de "É Preciso Saber Viver" com o Quinteto de Cordas da PUC. É possível que nem todos conheçam o trecho que diz: "Mas se você caminhar comigo / seja qual for o caminho eu sigo / não importa aonde eu for / eu tenho amor, eu tenho amor". Esses versos constavam na gravação original dos Vips, de 1968, e também são ouvidos ao final do filme "Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa" nas vozes de Roberto, Erasmo e Wanderléa. Depois Roberto regravaria a música para o seu compacto de 1974 deixando de fora essa parte, talvez para não desvirtuar a mensagem "ajuizada" da letra. Em outras palavras: nem por amor a gente deve sair do bom caminho.