Mais lembranças musicais
Minha primeira etapa foi dar uma escutada rápida em cada disco, faixa por faixa, e anotar as músicas que iria gravar. Depois, passei para a gravação propriamente dita. Usei uma fita de 120 minutos. Elas não eram muito recomendadas, pela fragilidade. Exigiam muito do tape deck no momento de tocar e rebentavam com facilidade. Mas eram boas enquanto duravam. Para mim, naquela idade, ouvir dezenas de discos numa tarde era uma overdose e uma revelação. Até hoje lembro de vários LPs e músicas que escutei naquela ocasião. Não terminei de fazer a gravação. A ideia era voltar lá para completar a fita, mas não foi preciso: meu irmão achou minha lista, entendeu as anotações (tipo "Beggars Opera A – 3, 4, 5, 6", o que queria dizer "gravar faixas 3, 4, 5 e 6 do lado A do LP do Beggars Opera") e fez para mim. Vai daí que, até hoje, sempre que eu reencontro algum disco ou música que descobri naquela tarde, lembro imediatamente daquele momento.
Citei o Beggars Opera como exemplo porque foi um dos LPs de que mais gostei, na primeira escutada – no caso, "Pathfinder". Fazia parte da formação o guitarrista Ricky Gardener, que depois viria a tocar com David Bowie. Mas eu só iria ligar esses fatos décadas depois. Uma curiosidade é que, cerca de quatro ou cinco anos mais tarde, encontrei o LP para vender no saudoso "Troca Discos", uma das primeiras lojas de discos usados de Porto Alegre. Como estava em bom estado, comprei na hora. Quando finalmente escutei o disco em casa, fiquei surpreso de constatar que, desta vez, já na reta final da adolescência, minhas músicas preferidas haviam mudado. Eu gostei mais justamente das que eu NÃO tinha gravado em 1974, no caso, "Hobo" e "Macarthur's Park".
E assim, de vez em quando, reencontro algum disco que lembro de ter ouvido naquele dia longínquo. Agora, por exemplo, estou escutando o "Every Good Boy Deserves Favour", do Moody Blues. Mas aqui a opinião do adulto de 48 é a mesma do garoto de 13: continuo achando que as duas únicas faixas realmente boas são "The Story in Your Eyes" e "Emily's Song", que foram as que gravei, na época. Esse álbum não é um dos melhores momentos do grupo. Entre os demais LPs daquela tarde histórica estava uma coletânea de diversos artistas, de onde selecionei "I'd Like to Teach The World to Sing", "How do You Do" e um clássico de Cat Stevens, "Morning has Broken". Havia também um tal de Jonathan Edwards e seu álbum "Honky-Tonk Stardust Cowboy", do qual me agradou apenas "That's What Our Life Is". E o primeiro LP do Stealers Wheel, que futuramente também faria parte de minha coleção. Deste, escolhi "Late Again", "Gets So Lonely" e "You Put Something Better Inside of Me". Estranhamente, deixei de fora "Next to Me", que hoje é uma de minhas preferidas.
Enquanto repassava essas lembranças musicais pelo teclado, percebi que talvez eu esteja misturando duas datas numa só. Não foi só uma vez que gravei discos na casa de meu irmão em 1974, embora tenha havido realmente uma tarde inteira dedicada a isso. O disco do Moody Blues, por exemplo, deve ter sido em outro dia, pois agora lembro que as músicas não foram parar na fita de 120 minutos. Em algum lugar ainda devo ter uma fita de 60 minutos com "The Story in Your Eyes" e "Emily's Song", além de duas faixas do ex-Creedence Tom Fogerty, no caso, "Here Stand The Clouds" e "Beauty is Under the Skin". Esse LP eu nunca mais ouvi, mas qualquer dia o reencontro. E aí voltarei mentalmente àquele apartamento da Rua da Praia em frente ao cinema Cacique, diante daquela pilha de vinis.
Ah, sim: não tenho certeza, mas é possível que eu tenha gravado também "After You Came" do LP do Moody Blues. Era imprescindível acrescentar essa informação. Como também indispensável será achar a fita e tirar essa dúvida.
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