terça-feira, novembro 03, 2009

Sotaque

Em sua autobiografia, Pelé comenta que, em países de língua inglesa, seu nome é pronunciado incorretamente. Esse, aliás, é um trecho do livro que foi adaptado para cada idioma. Na edição lançada na Inglaterra, ele tenta explicar a pronúncia correta aos leitores. No texto em português, apenas informa que o final "é", em inglês, vira "ei".

Só não sei se Pelé entendeu o porquê dessa dificuldade de pronúncia. É que, em inglês, não existe palavra terminada em "é". Ou mesmo em "ê". A segunda nota musical, por exemplo, é chamada de "Re", mas pronuncia-se "rei", com aquele "r" enrolado. Aliás, o som de "ê", sozinho, não existe nem no meio de palavra. Também não há em inglês o som de "ô" puro. A viúva de John Lennon, a japonesa Yoko, é chamada de "Yôukou". Um de meus sobrinhos esteve comigo nos Estados Unidos em 1985 e achava graça da forma como eu dizia o meu nome quando pedia ligações a cobrar para o Brasil: "Emíliou". Mas a telefonista entendia perfeitamente.

Por outro lado, no livro "Once in a Lifetime", sobre a história do Cosmos, o autor Gavin Newsham observa que Pelé chamava o dirigente Clive Toye de "Clivie". Mas também não explica o porquê. Fica parecendo que era um apelido carinhoso. É que a pronúncia do "e" final de palavras em inglês é um erro comum para os brasileiros. Além disso, não existe em português nenhuma palavra que termine foneticamente em "v". Ou em qualquer outra consoante que não "l", "m", "n", "r", "s", "x" ou "z". Se surgir algum termo com a terminação impronunciável, acrescentamos um "e" ou "i". E um exemplo claro disso está bem diante de seus olhos: a Internet. Dizemos "Internete" ou "Internéti".

Pensando bem, os diálogos entre Pelé e Clive Toye deviam ser interessantes: "Pelei" pra cá e "Clivie" pra lá. E um achando graça do outro por não saber pronunciar seu nome corretamente.