quinta-feira, julho 12, 2007

Pesquisas digitais

Certa vez eu e um amigo estávamos conversando sobre uma paixão comum, os livros. Ele trazia uma edição de bolso na pasta e comentou que nada substituía a "relação epidérmica" de segurar um livro na mão. Era uma referência ao fato de que a literatura, ao contrário da música, não sucumbiu às mídias digitais. Sim, existem obras completas em CD-ROM ou para baixar da Internet. Também há cópias piratas de livros circulando em formato Word ou PDF. Mas não ameaçam o livro de verdade. Quem ama os volumes impressos não os troca por um arquivo de texto. Na verdade eu estendo essa "relação epidérmica" também para CDs e DVDs originais, mas aqui sei que sou minoria. Mas nos livros, não. Eles continuam insubstituíveis para quem sempre gostou de ler.

Por outro lado, entendo que as publicações de referência em papel estão com os dias contados. No caso, a enciclopédia de enfeitar prateleira ou o dicionário de criança pequena subir em cima para alcançar o pote de biscoitos. A menos que seja muito doido, ninguém vai ler um dicionário inteiro, da primeira à última página, como se fosse um romance. Ele serve para tirar dúvidas específicas. Nesse quesito, os dicionários on-line são muito superiores. Alguns são tão ágeis que, você mal terminou de teclar a última letra, e o verbete já está na tela para leitura. Também as enciclopédias em CD-ROM estão cada vez mais sofisticadas. Os livros de pesquisa se encaminham para a obsolescência, substituídos pela celeridade da informação digital.

Ainda assim, um aspecto do material de consulta on-line que às vezes eu estranho é o fato de que ele "esconde o jogo". Resume-se a um CD de cinco polegadas e uma tela relativamente simples. Só de olhar, não se tem idéia da quantidade descomunal de informações que ele oferece. Eu, por exemplo, sempre gostei de examinar gramáticas ao acaso, descobrindo aos poucos o seu conteúdo. O Collins Cobuild é um exemplo de pacote que inclui dicionário, gramática, "usage" e thesaurus. Mas a impressão que eu tenho quando o utilizo é de que não tem quase nada ali. Afinal, ele só me mostra o que eu pesquiso. Já tentei simular uma "folheada de páginas" começando por um verbete bem baixo e clicando no botão que navega passo a passo. Mas não é a mesma coisa. E às vezes não lembro onde encontrei uma lição interessente. "Onde foi mesmo que apareceu aquela dica de formação de substantivos compostos?" Naquele mar de verbetes pulverizados por uma interface gráfica, fica difícil ter uma visão global do conteúdo. Certa vez cheguei a anotar a lápis o número de um item útil na capa do CD.

Este é o problema dos softwares de pesquisa: a olho nu, não se enxerga o volume de informações que eles contêm. E alguns são projetados de tal forma que é preciso fazer buscas pontuais, caso a caso, para desvendá-los. Sou totalmente a favor das enciclopédias, dicionários e gramáticas em meio digital, mas eles acabaram com o prazer de fuçar as páginas sem um propósito determinado. Muita coisa aprendi assim, folheando gramáticas por mero diletantismo. Às vezes, as informações mais valiosas são como as grandes paixões: aparecem quando não estamos procurando.