A cabeçada
A cabeçada do francês Zidane no italiano Materazzi ainda suscita polêmica. Por trás de toda a discussão a questão se resume a uma pergunta: é lícito perder a calma? Há quem pense que sim. Um dia desses, na hora do almoço, ouvi alguém falar: "O italiano ofendeu a mãe e a irmã dele em francês. Aí tem mais é que agredir, mesmo". Pois é. Só que o episódio em questão parece ser daqueles em que a intenção era exatamente a de fazer o outro se descontrolar. O objetivo foi atingido e acabou prejudicando Zidane.
Levar desaforo para casa não é fácil. Mas também é preciso tomar cuidado para não morder iscas. Há situações em que é preciso manter a cabeça fria a qualquer custo. Exemplo típico é debate em campanha política. Na guerra pelo voto, um momento de alteração pode ser desastroso para o candidato. E há políticos que são mestres em perceber o ponto fraco do adversário. Apertam os botõezinhos certos para acionar o detonador.
Claro que tudo depende do nível da pessoa. Há quem perca as estribeiras por uma bobagem. Mas Zidane não é nenhum Edmundo. Se ele tivesse pelo menos tentado se controlar, o diálogo que suscitou a cabeçada teria ficado entre os dois e sua imagem seria preservada. O craque francês descarregou sua raiva, mas pagou um preço por isso.
Também é preciso lembrar que todos temos um limite. Às vezes uma reação dessas é mais forte do que nós. Mas há uma diferença entre acertar as contas com a turma da esquina e partir para a ignorância em público a partir de uma provocação mal intencionada. O grande desafio é revidar com classe, saindo por cima. Nem sempre é possível. Mas temos que saber perceber quando estamos na arena de uma guerra psicológica. Aí, sangue frio é tudo.
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