O mito dos CDs piratas
O problema é que nem todos os consumidores são filhos da Dona Irene. Foi minha mãe que, indiretamente, me ensinou a valorizar e conservar um produto original. No tempo dela não existiam CD-Rs, mas havia livros. E lembro da insistência dela comigo: livro não se risca, livro não se recorta, livro não se rasga. Livro é jóia e deve ser conservado. Com isso, ela conseguiu me incutir a idéia de que o livro não era valioso apenas pelo conteúdo, mas pelo objeto em si. Uma capa rasgada ou um rodapé rabiscado podiam não interferir na leitura, mas depreciavam o item como um todo.
Essa mentalidade eu estendo para os CDs. E acho que, se a indústria tem alguma esperança de combater a pirataria, deveria tentar investir nessa lógica em vez de criar mitos. Eu olho para minha coleção de CDs e fico imaginando que feia ela seria se, em vez daquelas capinhas nítidas e coloridas, lá estivessem aqueles inconfundíveis xerox borrados e esmaecidos. E se, na hora de tirar algum deles da caixinha, saísse um CD-R com aquele reflexo horroroso com tom predominante esverdeado. Tem gente que nem dorme direito se o carro sofrer um arranhãozinho. Limpa obsessivamente cada cantinho da sala. Mas compra CDs piratas.
“CD Pirata – A próxima vítima será seu aparelho de som.” Esse é o título do folheto em questão. Se é para investir em lendas, poderiam ter sido mais originais. Inventar, por exemplo, que CD-Rs atraem vibrações negativas. Dizer que os últimos ganhadores da Mega-Sena nunca usaram CDs piratas. Ou que o CD-R reflete o facho de laser de forma inadequada e isso pode causar câncer. Não, isso não assusta o suficiente. Impotência sexual! Isso! CD pirata faz brochar! Espalhem! Depois quero a minha comissão de marketing.
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