quarta-feira, março 09, 2005

Gato por lebre

Irrita-me o fato de que algumas lojas de discos de Porto Alegre vendem gravações em CD-R presumindo que não fará diferença para o cliente. Para alguns talvez não faça, mesmo, mas para mim faz. Sempre lembro a analogia do filatelista, que não se interessa por xerox de selos. Eu sempre quero produtos originais. Abro exceções para discos raríssimos ou fora de catálogo, quando tenho curiosidade de conhecer o trabalho. Recentemente comprei uma cópia dos discos de Tim Maia da fase “racional” (aqueles que o filho dele, Carmelo Maia, anunciou que David Bowie estava interessado em gravar e a imprensa brasileira em massa publicou a barriga, pois quem realmente manifestou essa vontade foi David Byrne), mas de uma loja especializada em raridades, consciente do que estava comprando.

Acontece que existe uma loja entre as “normais”, que não lidam com raridades, vendendo CD-Rs como se fossem discos oficiais. Isso é que me dá nos nervos: não sei se o dono da loja é muito burro ou se faz de bobo pra passar bem, mas ele insiste que os CDs são de fábrica. Ora, quem não nota a diferença? Mesmo que o CD em si tenha um rótulo impresso bem bonitinho, o brilho é diferente. E os dados do CD-R aparecem de forma minúscula ao redor do orifício. Sem contar a capa, com aquele tom inconfundível dos xerox coloridos. Mas a prova de fogo seria tentar tocá-los em meu antigo DVD player, que não aceita CD-Rs. Será que o dono da loja aceitaria fazer o teste?

Não vou citar o nome, pois é uma loja onde um vendedor em particular sempre me atendeu bem. Ele geralmente sabe dizer se um CD é original ou não, mas hoje se atrapalhou, talvez por ter fugido do estilo de sua especialidade. Vi na vitrine o CD “Temas Gaúchos”, do Conjunto Farroupilha. Eu sei que esse disco já saiu em CD antes, mas estava fora de catálogo. Perguntei a ele se era CD-R e a resposta foi que não, que havia sido relançado oficialmente. Na contracapa realmente aparecia nome, endereço e telefone da suposta gravadora. Resolvi arriscar, até pelo interesse nas músicas. Ora, além de ter um som abafado, é um CD-R dos brabos. Tentei acessar o site da Internet que consta na contracapa e recebi aviso de que um programa executável estava sendo baixado. Cancelei na hora.

Essa mesma “gravadora” lançou outro CD-R do Conjunto Farroupilha com músicas que já haviam constado antes da coletânea “Presença de Conjunto Farroupilha” da CBS (hoje Sony Music) e algumas também no “Gaúchos em Hi-Fi”, relançado com excelente qualidade de som pela Savalla Records. É pirataria de nível de camelô sendo vendida em loja de prestígio. E, a julgar pela qualidade de som, as faixas foram convertidas de vinil. Pelo visto os "pirateiros" nem sabem que elas já saíram em CD antes. Com o perdão da expressão, que baita chinelagem!