sexta-feira, novembro 02, 2018

Sobre a eleição

Agora, com calma, vou tentar escrever sobre a eleição.

Existem situações em que seria preferível não ter razão. Não ver uma previsão se concretizar. O PT cometeu muitos erros, sem dúvida. Mas dois deles me pareceram gritantes.

O primeiro, no caso, foi insistir com uma candidatura totalmente fantasiosa de alguém que já havia sido condenado em segunda instância e, em pouco tempo, foi preso. Que foi uma condenação injusta, estou certo disso. E indico o livro "Comentários a uma Sentença Anunciada: o Processo Lula", do Projeto Editorial Praxis, com vários autores, a quem ainda esteja inseguro sobre esse fato. O problema é que todos os recursos já estavam esgotados. Depois que o elefante passou pelo buraco da fechadura, não adianta tentar segurá-lo com um nozinho no rabo. E, mesmo que Lula fosse solto, esse fato, por si só, não seria suficiente. Seriam necessários muitos milagres num curtíssimo espaço de tempo para que ele pudesse se candidatar, se eleger e, finalmente, ter uma "posse mansa e pacífica" (a expressão, aqui, usada quase como um trocadilho). Isso deveria ter sido constatado logo, para que o substituto pudesse ter sido lançado o quanto antes. Em vez disso, muito tempo se perdeu com slogans tipo "Lula ou nada" ou "não tem plano B".

É bem verdade que o lançamento da candidatura Lula teve um resultado benéfico, num primeiro momento: ele liderando as pesquisas. Mas isso gerou um efeito colateral que levou ao segundo grande erro do PT. Supondo que Lula tivesse de fato eleitores em número suficiente para elegê-lo, Haddad tentou herdar esses votos em potencial da forma errada, apresentando-se como um clone do ex-Presidente. Primeiro, com o slogan "Haddad é Lula". Depois, ao responder à primeira pergunta da "Sabatina" UOL/Folha/SBT: "Se o senhor for eleito, quem vai governar o país, o senhor ou o ex-Presidente Lula?"

Eu baixei o programa em áudio para ouvir numa caminhada, no iPod. Lembro que eu estava chegando na Av. Beira-Rio quando escutei o começo da entrevista. Imaginei que Haddad iria dizer que, com certeza, o Presidente seria ele mesmo, e seguir por essa linha de argumentação. Para minha total estupefação, ele praticamente admitiu que Lula iria governar através dele (ouçam aqui e vejam se concordam comigo)! Ora, ninguém quer votar num marionete, num moleque de recados. O certo teria sido dizer que Lula seria uma inspiração e que a campanha "Lula Livre" teria seguimento, mas que as decisões seriam tomadas somente por ele, Haddad, de forma autônoma e independente.

Uma grande decepção, sem dúvida, foi Ciro Gomes. Até entendo a irritação dele. Se tivesse sido ele o segundo mais votado, as chances de vencer Bolsonaro na etapa seguinte teriam sido maiores, presume-se. E, depois da última declaração do candidato do PDT, ficou patente o desprezo que ele tem pelo PT. Mas segundo turno não é momento de nutrir mágoas. Seria a hora de dar uma trégua nas diferenças e se unir por um objetivo comum. Nesse aspecto, ao se omitir e viajar para o exterior, Ciro agiu como criança mimada que perde o jogo e sai fazendo beicinho, dizendo: "Não brinco mais!" Reconheça-se que ele não foi só ele a pecar por querer ser "o único certo". Se o PT, no início, dizia "ou Lula ou nada", Ciro deixou clara sua postura de "ou eu, ou nada". Mas isso não deveria perdurar no segundo turno.

Só nos resta torcer para que Jair Bolsonaro seja um Presidente tão bom quanto seus eleitores acreditam que será. Porque estamos todos no mesmo barco e, a partir do ano que vem, ele será o Comandante.

1 Comments:

Blogger depaula said...

Só para dizer que concordo inteiramente com sua avaliação do que aconteceu.

12:03 PM  

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