sexta-feira, novembro 02, 2018

Roger Waters: fim de turnê em Porto Alegre

Terça-feira, dia 30, Roger Waters encerrou sua turnê brasileira (parte da "Us + Them Tour") com show no Beira-Rio, em Porto Alegre. De minha parte, fico feliz que ele não esteja mais refazendo o álbum The Wall na íntegra. Pode ser um clássico, mas nunca foi dos meus preferidos do Pink Floyd. Em vez disso, ele apresentou um repertório diversificado do seu antigo grupo, mais algumas faixas de seu último disco solo, Is This The Life We Really Want. Roger sempre foi o lado mais agressivo do Floyd (e David Gilmour, o mais melodioso) e isso se fez sentir na postura do músico e na sonoridade da banda de apoio. Alguns momentos eram como um soco no estômago.
A apresentação abriu com "Breathe" do antológico Dark Side of the Moon, de 1973. Em seguida o estádio tremeu com os graves de "One of These Days". De volta ao Dark Side, soaram os despertadores no começo de "Time", anunciando outro instante de pura vibração. "The Great Gig in the Sky" é uma composição do saudoso tecladista Rick Wright que Waters já tocou por diversas vezes. No disco, o vocal solo é da cantora Clare Torry. No palco, as duas vocalistas de apoio fizeram um belo dueto. Na sequência, ouviu-se "Welcome to the Machine", outro instante tipo "rolo compressor sonoro". 
Como Waters possui uma voz soturna e grave, em geral, os vocais originais de David Gilmour são feitos pelo guitarrista da banda, que não é mau cantor mas tem um timbre muito pequeno e frágil. A exceção é a bonita balada "Wish You Were Here", que Waters fez questão de ele mesmo cantar, como vem fazendo desde o começo dos anos 2000 na turnê "In the Flesh", que passou por Porto Alegre (em 2002, no Estádio Olímpico). Essa ele interpretou depois de mostrar três faixas de seu trabalho solo mais recente ("Deja Vu", "The Last Refugee" e "Picture That"). A seguir, veio a tradicional sequência que culmina com o sucesso radiofônico de 1979, "Another Brick in the Wall". Um grupo de crianças entrou no palco para cantar e dançar e, na metade, todas tiraram suas camisas, mostrando que havia por baixo camisetas com a palavra "Resist". Foi o fim da primeira parte.
Durante o intervalo, o telão mostrou um discurso sobre a quem se deveria "resistir". Na lista de fascistas, havia uma tarja preta sobre a linha onde, no primeiro show, constava o nome de Bolsonaro. Esta foi a única apresentação da turnê brasileira realizada após a eleição e Waters não fez qualquer referência ao Presidente eleito. Somente a plateia, em alguns momentos, se dividiu entre gritos de "Ele Não" e vaias, estas em apoio ao candidato vencedor.
Uma bem-vinda surpresa nesta turnê é a revisitação ao álbum Animals, de 1977, que é um de meus três preferidos do Pink Floyd (junto com os dois anteriores, Dark Side of the Moon e Wish You Were Here). O disco vinha sido pouco valorizado nos últimos tempos. Ele não entrou, por exemplo, na série de relançamentos especiais "Immersion", que pegou apenas os dois precedentes já citados e o posterior, The Wall. Pois na volta do intervalo o palco se transformou numa reprodução da capa do LP, ou seja, a Usina Battersea, com direito a chaminés se erguendo e um porco inflável amarrado entre duas delas. E aí se ouviu a ótima "Dogs". Foi também nesse momento que começou a chover. Por sorte eu havia conferido uma previsão do tempo atualizada antes de sair de casa e tinha levado uma capa de chuva. 
Outro porco voador circulou por sobre a plateia durante "Pigs (Three Different Ones)", que era a minha favorita do LP na época do lançamento (hoje já não tenho certeza). Enquanto isso, o telão não poupava farpas ao presidente Trump, com fartas exibições de seu rosto. O visual sempre foi um ponto forte dos shows dos ex-Pink Floyd, mas desta vez Roger trocou a tradicional tela circular por um formato meio "cinemascope". As imagens eram bem impactantes.
Mais uma vez retornando ao Dark Side, a banda apresentou "Money", depois "Us and Them". Roger quebrou a sequência de canções do clássico de 1973 com outra de seu último álbum, no caso, "Smell the Roses", mas logo retomou o velho disco (representado por um prisma de raio laser em frente ao palco) com "Brain Damage" e "Eclipse".  
Roger avisou que iriam tocar logo a saideira, pois uma tempestade estava se aproximando e poderia haver risco para todos. De fato, os relâmpagos já estavam dando um show à parte, a ponto de ganharem reações entusiasmadas do público. Houve quem entendesse que alguma música do set list foi excluída. Eu acho que ele apenas dispensou o ritual do fim falso e bis programado, deixando de sair e voltar aos gritos de "mais um". E assim ele emendou direto a linda "Comfortably Numb", encerrando um espetáculo absolutamente perfeito de rock progressivo. 

P.S.: Ele pode ter deixado de cantar "Mother" como parte do bis. Essa ele tocou no Rio, como acabam de me informar.

2 Comments:

Blogger José Elesbán said...

Belo show, belo relato.

8:38 PM  
Blogger Unknown said...

Muito Bom, como sempre, seu texto. Como estou morando em Porto Belo-SC desta vez preferi assistir em Curitiba no sábado anterior...

5:44 AM  

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