domingo, abril 03, 2011

Diagnóstico de autismo

A mãe do Iuri acabou de me ligar dizendo que houve manifestação pelo Dia Mundial da Conscientização do Autismo no Parque da Redenção, em Porto Alegre, e que haverá outra junto à chaminé do Gasômetro. Mas vou ficar por aqui mesmo com ele, fazendo nossa programação normal.

Mas isso me faz lembrar outro assunto que já pensei em comentar aqui no Blog: a questão do diagnóstico. Todos os pais de crianças autistas passam por um período de indefinição. Percebe-se que o filho tem alguma deficiência, mas não se tem certeza do que se trata. Neste momento, é inevitável sonhar com um alarme falso. Que tudo não passe de um susto e breve o filho ou filha esteja se desenvolvendo normalmente. E com certeza acontecem muitos desses casos. Mas também não se deve fugir do problema ou fingir que ele não existe.

É comum nesta hora buscarmos opiniões de pessoas nem sempre qualificadas. Parentes, amigos, gente mais próxima. Infelizmente, isso de pouco adianta. De que vale, por exemplo, um colega seu dizer que seu filho é normal, se ele, o colega, não é um especialista? Depois de um certo tempo os pais ficam confusos, pois Fulano diz que está tudo bem, Beltrano também, Cicrano já acha que pode haver alguma deficiência e o saldo de todas esses palpites é um "achismo" que não ajuda em nada.

Desconfiou que algo pode estar errado com seu filho? Procure um médico especializado e faça o quanto antes uma bateria de testes.

Mas existe outra questão. Mesmo com acompanhamento médico, alguns pais continuam ansiosos, pois exigem do profissional um diagnóstico completo e definitivo. É autismo? Não é autismo? É autismo leve ou severo? Meu filho vai falar? Vai poder levar uma vida normal? Falar, muitos autistas falam. Alguns desenvolvem um padrão de comportamento bem sociável, até. Mas isso pode gerar esperanças de que a criança venha a frequentar escola normal. Muitos pais forçam a barra, tentando criar uma ilusão de normalidade para seus filhos especiais. Isso só resulta em mais frustrações.

Meu filho, no caso, é não-verbal. Mas já tive contato com outros pais, já conversei com especialistas, então conheço um pouco as diversas situações. Com base nas minhas experiências e observações, deixo aqui alguns conselhos:

- Não fiquem ansiosos por um diagnóstico definitivo. Se ficou comprovado que seu filho tem alguma deficiência, iniciem logo um tratamento. E deixem o tempo mostrar o quanto a criança poderá evoluir ou não. Por mais competentes que sejam os médicos, eles não têm bola de cristal. É praticamente impossível prever o quanto uma criança autista de dois ou três anos poderá progredir.

- Alguns pais relutam em aceitar que seus filhos tenham autismo, embora a deficiência seja evidente. Lembro uma mãe que disse que ficou "contente" quando um médico lhe disse que o seu filho tivera na realidade uma "depressão infantil". Mas isso não mudou em nada a condição do menino. Na verdade, o autismo é diagnosticado pelos sintomas, não pela causa, que em muitos casos é desconhecida. Certa vez li uma analogia que achei perfeita: seria como se a cegueira fosse descrita como a "tendência de andar devagar, esbarrando em objetos". Porque esses são os sintomas. Então não adianta ficar indo de médico em médico na esperança de que algum deles diga o que a gente quer ouvir. Fugir do rótulo "autismo" não vai alterar em nada o desafio e a missão que se tem pela frente. O importante é começar logo o tratamento.

- Enfim, retomando o que escrevi ontem: aceite e ame o seu filho como ele é. Lembre-se: autismo tem tratamento, mas não tem cura. A cura é a aceitação. Aprenda a ser feliz com seu filho, sem lamentações, sem "coitadismo". E bola pra frente!

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Emílio

Sou mãe de uma menina autista de 6 anos e acho que as tuas palavras são preciosas para muitos de nós: aceitação do diagnóstico, acolhimento dos/as filhos/as e amor.
Apenas discordo da idéia de que a busca de médicos e/ou terapeutas seja por soluções/respostas definitivas: ela pode ser a busca, incansável, de todo pai/mãe pelo melhor para o seu filho/a. Talvez aquela sensação de que há, sempre, algo novo e, talvez, mais adequado para oferecer a eles/as.

Gládis Kaercher

1:26 PM  
Blogger Bruna Cosini said...

Olá Emilio, cheguei ao seu texto pesquisando sobre o autismo pois minha filha de 2 anos apresenta todos os sintomas ! Ainda não temos um diagnostico e me sinto um pouco perdida em relação a qual tratamento ir atrás. Vc saberia me informar qual o primeiro passo que devo dar ? Obrigada

5:39 PM  
Blogger Emilio Pacheco said...

Bem, primeiro eu sugeriria que você lesse com calma as dicas que já estão no texto. No caso do meu filho, o primeiro passo foi uma consulta com uma neuropediatra. Ela o atende até hoje, embora não seja a única médica dele. Depois de constatar preliminarmente que ele tinha um comportamento autista, ela indicou uma psicóloga para uma bateria de testes. Ali, confirmou-se que havia um transtorno global do desenvolvimento. Aí, decidimos que ele iria iniciar um tratamento especializado. A primeira escola que nos indicaram não nos agradou. Acabamos colocando o Iuri numa outra escolinha indicada por um colega meu, onde o ambiente era mais amoroso, mais de "Jardim de Infância".

Esse é o primeiro passo. Caso a condição de autismo se confirme eu posso dar mais dicas, mas cada coisa a seu tempo.

7:42 PM  

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