Dia do Autismo
Muitas vezes, pensei em escrever sobre autismo aqui no Blog. Em dividir minhas opiniões com outros pais na mesma situação Mas aí examinava minha história recente e pensava: que moral tenho eu para dar conselhos? Nem ao menos vejo meu filho todos os dias! Não sou mau pai, tenho certeza disso, mas estou longe de ser um modelo. Falhei, cometi erros e nem sempre priorizei minhas responsabilidades paternas ao tomar decisões. Mas não abandonei meu filho. Inclusive, neste exato momento, ele está ouvindo música ali no meu quarto. Ele mesmo me trouxe o CD para que eu o colocasse.
Então, assumindo minhas humanas imperfeições, gostaria de, finalmente, falar sobre uma questão que considero importantíssima, que é a aceitação. Aceitar de verdade, de alma, de coração, acolher de braços abertos o filho especial. Não confundir com "conformar-se" ou "resignar-se", que são coisas bem diferentes. Às vezes vejo pais ansiosos por um milagre. Certa vez conversei com a mãe de um menino autista que, além de negar a condição do filho, me contou que todo o final de ano era de tristeza, pois "ainda não tinha sido daquela vez" que o garoto tinha se curado. Quando surgem notícias de avanços nas pesquisas, sinto-me gratificado em ver o interesse dos cientistas pela questão, mas também lamento pelas falsas esperanças que podem ser disseminadas.
Há momentos em que a condição do meu filho pode causar incômodos. Ontem à noite, por exemplo, ele não queria dormir. Acabou pegando no sono às 4 da manhã. Os passeios com ele têm que ser sempre nos mesmos roteiros. Impor limites também é complicado: já levei tapas no rosto e até mordidas no braço. Mas o sorriso dele, os beijinhos que ele dá apenas encostando os lábios, o carinho do abraço dele, faz tudo valer a pena. E para cada uma pessoa intolerante que cruza o nosso caminho, encontramos dezenas que nos recebem com amor e paciência. Nunca vou esquecer de uma moreninha que trabalhava na Taba, no Shopping Praia de Belas, há muitos anos. Ela gostava tanto do Iuri que até presente de Natal deu para ele uma vez.
Por isso, pais e mães de crianças autistas, como bem disse a minha irmã, o milagre é a aceitação. Esses são os nossos filhos. Eles nos amam incondicionalmente, portanto merecem receber o mesmo sentimento. No meu caso, não recomendo a separação para ninguém. Mas, se acontecer, não deixem de ser pais. Mantenham a parceria nessa missão comum. Aqueles que dizem que a mãe do Iuri nunca me afastou dele por conveniência não conhecem a história de esposas separadas que vão à Justiça para tirar até a cueca de seus ex-maridos, mas não deixam que vejam os filhos. Eu e ela continuamos unidos por um filho comum. E eu me dou bem com os irmãos dele que não são meus filhos. Deixo vocês com uma imagem do meu filho dormindo, na minha casa. Fotografei com tripé, aproveitando que ele estava bem queitinho, parado.
Dorme tranquilo, eterna criança. Os anjos da guarda do céu e da terra cuidam de ti.
6 Comments:
Poxa, cê me emocionou. Isso não vale...
Beijão nocê e outro no Iuri!
olá,sou mae de um autista e entendo muito bem voce.O segredo é mesmo a aceitaçao,muito amor e PACIENCIA.abraços!
Que lindo esse seu texto. Você já leu "O filho eterno"? Não é sobre autismo, mas sobre aceitação. Achei esse livro emocionante e de uma sensibilidade gigante. Vc já leu?
Não, Carolina, nunca tinha ouvido falar nesse livro. Obrigado pela dica.
Cristóvão Tezza, o autor. Ele ganhou o Prêmio Jabuti com esse livro.
Cristóvão Tezza, o autor. Ele ganhou o Prêmio Jabuti com esse livro. É a história dele com o filho dele. Lindo demais mesmo.
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