Alice Cooper por ele mesmo
Pensando bem, não foi um bom marketing para Alice Cooper intitular sua nova autobiografia "Alice Cooper, Golf Monster" (escrita com Keith e Kent Zimmerman). Não fosse a dica de alguns colecionadores da Internet, eu continuaria pensando, como achei da primeira vez que vi a capa, tratar-se de um livro sobre golfe. E é também. Mas os capítulos sobre o assunto são pequenos e se alternam à história desse roqueiro seminal. Na verdade, esse livro foi parte de um "pacote" que eu montei para me preparar para a vinda de Alice [em 2007]. Comprei também todos os DVDs dele, que eram em maior número do que eu pensava. De última hora, vários shows foram cancelados, inclusive Rio e Porto Alegre. Restou-me a consolação dos vídeos e do livro. De qualquer forma, assisti a uma rápida apresentação de Alice em 2000 como parte do show British Rock Symphony. E ele cantou "School's Out", a música que representou para mim nos anos 70 o mesmo que o álbum "Sgt. Pepper's" dos Beatles para a geração dos anos 60: mexeu com minha cabeça e me deixou irreversivelmente contagiado por um gênero que eu ainda não conhecia. Todo o hard rock que eu descobriria depois, de David Bowie aos Sex Pistols, teve a semente plantada por aquela faixa-título.
No começo, Alice Cooper era uma banda. E como tal, ganhou projeção com sucessos como "I'm Eighteen", "School's Out", "No More Mr. Nice Guy" e "Elected". As últimas apresentações de Alice Cooper, o grupo, aconteceram justamente no Brasil. Numa época em que shows internacionais eram raríssimos, Alice causou furor. No livro, ele dedica um capítulo inteiro para relembrar essa turnê e retoma uma tese que na época foi explorada em matéria da revista Circus: de que sua popularidade no Brasil estaria ligada à semelhança de seu show com os rituais de macumba. Fora esse detalhe discutível, o que ele conta sobre a "Coopermania" que presenciou nestas plagas é uma narrativa bastante fiel. Um detalhe que ele omite, embora tenha citado em sua autobiografia anterior, "Me, Alice" (com Steven Gaines, de 1975), é que o fim do grupo foi precipitado pelo livro de Bob Greene, "Billion Dollar Baby". O jornalista excursionou com a banda no final de 1973 como o Papai Noel que levava uma surra ao final do show e contou todos os podres em seu relato. A obra de Greene é hoje uma raridade e de vez em quando aparece a preços bem salgados em sites como Ebay e Abebooks.
Outra diferença é que Alice encerra o livro de 1975 dizendo que está "bebendo menos", a eterna ilusão dos alcoólatras. Já no atual ele conta tudo sobre seu vício e recuperação. Em outubro de 1977, seu estado era deplorável. Foi sua esposa Sheryl e seu fiel empresário Shep Gordon que tomaram a iniciativa de interná-lo. Sua experiência no Centro Médico Cornell serviu de tema para o álbum "From The Inside". Aparentemente, Alice estava curado. Mas tempos depois teve uma recaída, após beber um gole de vinho que sua esposa pedira num restaurante. Voltou ao fundo do poço. Em 1983, a situação estava crítica e Sheryl pediu o divórcio. O casal e seus respectivos advogados estavam a caminho do tribunal quando Alice deu um basta: "nosso casamento não pode terminar assim!" Dispensaram os advogados e o cantor se comprometeu a largar o álcool em definitivo. E assim fez, após novo tratamento. Mas atribui boa parte de sua reabilitação à paixão por golfe. Diz ter mudado para um "bom" vício – daí o subtítulo do livro: "12 Passos de um Roqueiro para Tornar-se um Viciado em Golfe".
Talvez os fãs estranhem saber que Alice é hoje um cristão convicto – um caminho que ele considera natural, como uma volta ao começo, já que seu pai era pastor protestante – e também um abstêmio consciente dos malefícios do álcool. Ele comenta, por exemplo, sobre o "falso crédito" que muitos alcoólatras dão à bebida por suas conquistas, achando que, sóbrios, não obterão o mesmo êxito. "Eu gravei cinco álbuns de platina e cheguei duas vezes ao número um nas paradas sob a influência. (...) Eu teria gravado dez álbuns de platina se não tivesse bebido!" Ele também explica que o fato de ter-se convertido não mudou sua personalidade de músico. "Sou apenas um astro de rock que é cristão". Embora o livro seja narrado na primeira pessoa, o nome "Alice" é várias vezes citado como um personagem à parte. Ainda assim, ele conta que mudou oficialmente o seu nome de Vince Furnier para Alice Cooper em 1974, para ter direito usar essa alcunha na carreira solo. Mesmo tendo se tornado uma lenda, ele preserva o deslumbramento por ter conhecido celebridades como Salvador Dali, Groucho Marx, Peter Sellers, Fred Astaire e Frank Sinatra, com quem tirou uma foto e enviou à sua mãe. Foi aí que ela percebeu que o filho era um vencedor. Ao final, ele lamenta o estado a que chegou a indústria da música, em que os artistas são promovidos de forma efêmera e as gravadoras esperam que eles se enquadrem em um tipo específico de público. "Não acredito que tenhamos mais caras como David Bowie e Elton John, artistas que ficaram no topo por muito tempo", ele prevê. O último capítulo traz dicas de jogadas de golfe, para quem se interessar.
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