Bom te ver, Alice Cooper!
Alice Cooper já tem uma videografia expressiva em DVD: "Welcome to My Nightmare" (show de 1975), "Trashes the World" (1990, por enquanto só importado, embora já tenha saído no Brasil em VHS), "Brutally Live" (2000), "Special Edition EP" (três clips da TV alemã entre 71 e 72) e o ótimo documentário "Prime Cuts". Mas estava faltando um show em vídeo do tempo em que o nome Alice Cooper significava não um cantor, mas um grupo. A formação era: Michael Bruce e Glen Buxton nas guitarras, Dennis Dunaway no baixo, Neal Smith na bateria e um tal de Vince Furnier no vocal. Foi com esses nomes que a banda apresentou inicialmente os seus integrantes. Mas quando os desinformados começaram a perguntar onde estava a cantora chamada Alice Cooper, os músicos, de comum acordo, resolveram que Vince adotaria para si o mesmo nome do grupo. "E assim criamos um monstro", conclui Michael Bruce em seu livro "No More Mr. Nice Guy – The Inside Story of The Alice Cooper Group".
"Good to See You Again, Alice Cooper" foi filmado durante shows em Dallas e Houston, no Texas, em abril de 1973. Mas a produção total foi concluída em 1974 com a encenação de esquetes humorísticos com atores, os quais aparecem entremeados às cenas de shows. Felizmente o DVD tem uma opção de ver somente as músicas, já que os trechos de comédia são arrastados e, admitamos, pouco engraçados (a menos que você seja adepto do humor tipo "quanto pior, melhor", que às vezes pode cair bem). Não admira que a edição original logo tenha sido substituída por outra, mais enxuta, em que os esquetes deram lugar a cenas curtas de filmes antigos e uma entrevista de Alice. Essa versão chegou a sair em VHS em 1986 por um obscuro selo alemão e cópias circulam bastante entre colecionadores. Outra diferença são as músicas que se ouviam nos créditos de abertura e encerramento, que eram respectivamente "Never Been Sold Before" e "Hard-Hearted Alice", gravações de estúdio do LP "Muscle of Love", de 1974. No DVD, foram usadas "No More Mr. Nice Guy" e "My Stars", do próprio show.
Um dos extras do DVD é o recurso de olhar todo o filme com comentários de Alice Cooper. Esse é um item de conferência obrigatória para os fãs (felizmente, foi legendado). Na cena inicial, que mostra a banda em estúdio cantando "The Lady is a Tramp", as observações de Alice são esparsas e superficiais. Mas não desista: no momento em que o show começa, o papo esquenta e o cantor faz uma verdadeira auto-análise mais de 30 anos depois. Articulado e bem-humorado, ele conta detalhes de bastidores, lembra fatos de 1973 relacionados à banda e até cita a vinda ao Brasil em 1974, onde Alice Cooper, o grupo, realizou seus últimos shows.
Os truques de palco eram bem sofisticados para 1973. Alice Cooper foi talvez o primeiro a fazer uso de teatralidade no rock: um echarpe que se transforma em bengala em "Elected" ("2,98 em qualquer loja de mágica", ele debocha nos comentários), uma gigantesca broca de dentista e uma atriz fantasiada de dente em "Unfinished Sweet" (que teve um trecho censurado no filme, mas aparece nos extras), bonecas decapitadas em "Dead Babies" e a tradicional guilhotina em "I Love the Dead". Ah, sim: tem também a lendária jibóia em "Sick Things". Alice conta em sua autobiografia "Me, Alice", publicada em 1976, que estava ensaiando com uma cobra nova, deixando que ela se acostumasse com ele e a temperatura de seu corpo, quando o animal se enroscou em seu torso e já iniciava o aperto fatal, até que ele conseguiu chamar por socorro.
Em geral os fãs não atentavam para o fato de Alice Cooper ser o nome de um grupo e não de um solista. Para eles, Alice Cooper era o cantor e os músicos o acompanhavam. A vinda ao Brasil confirmou essa percepção, inclusive por parte da imprensa. Enquanto o vocalista era cercado por repórteres, os demais circulavam livremente. Em 1975, Alice lançou seu primeiro disco solo, "Welcome To My Nightmare". Quando o segundo, "Goes To Hell", de 1976, estourou com a balada "I Never Cry", que nada tinha a ver com o velho estilo, ficou evidente para todos, inclusive para os ex-integrantes, que a banda tinha acabado. Em 1977, Michael Bruce, Dennis Dunaway e Neal Smith formaram o Billion Dollar Babies e soltaram o álbum "Battle Axe". Não deu certo.
Alice teve problemas de alcoolismo e seu tratamento inspirou o disco "From the Inside", de 1978. Talvez a bebida o tenha ajudado a não se importar com as críticas. Seja como for, sua postura "tô nem aí" o projetou como um autêntico personagem de terror tipo "filme B" do rock, sem pretensões de reconhecimento. Com isso, ele conquistou a imprensa musical mais elitista. A Rolling Stone chegou a publicar uma edição especial sobre ele em 1975 enquanto o Kiss, por exemplo, até hoje nunca foi sequer capa da revista. Com exceção da sobriedade, algumas baladas e um flerte com a new wave em 1980, Alice Cooper se manteve sempre o mesmo: roupas de couro preto, cabelo comprido, maquiagem em torno dos olhos muito rock e circo de horrores no palco. Este DVD é um raro registro do grupo e de como tudo começou. (Que fim levou o vídeo-tape de um dos shows do Brasil, exibido na época, em que Alice Cooper cuspia na lente da câmera?)
2 Comments:
Emilio, fico sem saber se você já descobriu a resposta de sua pergunta nesse tempo entre a publicação original do artigo e agora, mas o show que Alice cospe na câmera, que foi exibido na TV Manchete em algum momento dos anos oitenta, é 'The Nigthmare Returns', da turnê 'Constrictor', aonde o guitarrista era o marombeiro Kane Roberts e o baixista era o então desconhecido Kip Winger, antes de 'Miles Away'. Está disponível na Amazon, tanto em VHS quanto em DVD. Espero ter te ajudado...
Obrigado pela dica, mas eu lembro bem que ele fez isso em 1974 e inclusive foi mostrado três vezes em sequência na edição.
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