É hoje!
Freqüento a Feira desde a infância, pois morei no Centro até os 26 anos e minha mãe sempre me levava lá. Lembro que as barracas eram em número bem menor e não ficavam dispostas linearmente, como hoje. Elas se distribuíam de forma irregular na Praça da Alfândega nas proximidades da estátua de Osório. Naquele tempo ainda transitavam veículos nas ruas limítrofes, de forma que a Feira se restringia àquela quadra. Depois, com a construção dos calçadões, ela começou a se expandir. E hoje se estende até o Guaíba praticamente.
Outra lembrança é de que, por muito tempo, a única barraca especializada em livros infantis era a da Salvador La Porta, que representava a EBAL. Depois começaram a surgir outras. Hoje existe uma seção inteira só para crianças. Mas minha parte preferida passou a ser a internacional, onde encontro ótimos dicionários e livros de referência. Recordo ainda da saudosa Sulina e seus livros importados de música. Certa vez um vendedor comentou que só me via na Feira, mas não na livraria. Passei a freqüentar a livraria, também.
A Feira concede descontos de 20% sobre o preço de lista dos livros, além de outras ofertas. Mas, embora em tempos de inflação sob controle isso até seja uma vantagem, o que sempre me atraiu nesse evento foi a reunião de livros e livreiros em um só local. Preço é um fator importante, mas quem realmente gosta de ler não usa como desculpa para deixar de comprar. Anteontem mesmo ouvi uma cliente saindo da Saraiva do Praia de Belas aos berros. "E depois reclamam que o povo não lê! Vai ler como, com esses preços?" Garanto que a televisão para ver as novelas da Globo ela comprou sem reclamar. Cinco minutos depois, o alto-falante parabenizou os vendedores por uma meta alcançada.
Pensando bem, livro é supérfluo: só faz falta para pessoas inteligentes.
Desde que comecei a trabalhar, em 1981, não pude mais acompanhar a abertura da Feira. Mas em 1988, em razão de um curso, eu estava fazendo horário diferenciado e pude comparecer. Lembro que o Governador Pedro Simon, um tanto desgastado pelo episódio da greve dos professores, fez um breve discurso e encerrou dizendo: "Para mostrar que não guardo rancor, vou passar a sineta às mãos de uma professora." E ela, por sua vez, a entregou a Júlio La Porta, o Xerife, para que a soasse pela Praça inaugurando a Feira. Para quem espera o ano todo por este momento, a emoção é a mesma de ver uma tocha olímpica sendo acesa.
É hoje! Não sei como as outras cidades conseguem ser felizes sem uma Feira do Livro.
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