Traído pela ostentação
Quero deixar bem claro que sou uma pessoa honesta e jamais tentaria me locupletar ilegalmente. Costumo dizer que, se existisse alguém esperto o bastante para bolar um golpe perfeito, seria esperto também para não colocá-lo em prática. Mas se porventura eu pusesse a mão numa boa grana de forma ilícita, acho que, pelas compras, ninguém me descobriria. Eu providenciaria um carro novo, sim, mas nada extravagante. O máximo de comentários que eu escutaria seria “tava na hora, mesmo!” Meus sonhos de consumo são outros e ficariam bem escondidos dentro de casa: um bom home theater, um player multicompatível (DVD, DVD-A, SACD e o que mais inventarem), móveis para guardar minhas coleções e mais alguns eletrodomésticos que estão fazendo falta, tipo lavadora de roupas, Suggar e mais um ar-condicionado. Poderia me mudar para um apartamento de três quartos e encher um deles com jogos e ocupações para o meu filho. Só o que talvez desse na vista seria as roupas melhores que eu iria usar. Mas até isso as pessoas diriam que “tava na hora”.
Mas eu sou um caso raro de brasileiro que não é apaixonado por carro. Em geral, quem arma um cambalacho desses já está sonhando com automóveis desde o começo. Aí, que graça tem se encher de dinheiro e não poder gastá-lo? Sem falar nas mulheres, é claro. Nada como um cheiro de carro novinho para atraí-las. É nessa que o golpe acaba aparecendo. O brasileiro não se agüenta. Se o dinheiro não for para comprar bons carros, vai ser para quê? Que graça tem estar milionário e não poder se exibir? No caso, o rapaz da notícia foi além: fez plástica no nariz e lipoaspiração.
Existe ainda um outro aspecto. Talvez por ter estudado em colégio público, não sinto e muitas vezes sequer entendo essa necessidade de ostentação de algumas pessoas. Não basta ter dinheiro, é preciso mostrá-lo. Então, quem não tem, mais do que passar necessidade, se sente humilhado pelos luxos alheios. Assim, quem muda repentinamente de uma situação de privações para outra de disponibilidade financeira, trata de exibir sua nova condição pela compra de bens caros e vistosos. É uma forma de descarregar as frustrações. Só que, no caso de quem enriquece indevidamente, a falcatrua acaba aparecendo.
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