sexta-feira, novembro 18, 2005

A difícil colocação em prática

Anteontem, na capa do Segundo Caderno da Zero Hora, foi anunciado o lançamento de um site na Internet para, digamos, “apaixonados por leitura”. A idéia seria congregar leitores, editores, livreiros e escritores em um só portal. Achei a concepção interessante, mas lembrei da decepção que tive há muitos anos com o lançamento de um “sebo virtual”. Na época, fiz minha inscrição, só para dali a menos de duas semanas receber uma mensagem de que o site estaria sendo reformulado e, por isso, eu teria que refazer meu cadastro. Até pode ser que a segunda tentativa tenha vingado, mas eu não me reinscrevi. Achei o cúmulo do amadorismo pedir que os inscritos redigitassem seus dados. Uma reestruturação bem feita reaproveita as informações já registradas, ainda mais considerando que o lançamento havia sido feito recentemente.

Mas, diante da matéria enaltecedora publicada na Zero Hora, decidi dar uma chance ao portal dos “apaixonados por leitura”. A página inicial era bonita, mas a maioria dos links, quando se colocava o cursor por cima, abria uma mensagem que dizia apenas: “Breve”. Já dei uma torcidinha básica de nariz. Sei que existem muitos “breves” e “em construção” espalhados pela Internet, mas em geral não são anunciados antes do tempo. Se são encontrados por acaso por quem utiliza ferramenta de busca, paciência. Mas fazer o lançamento de algo que ainda não está pronto me cheira a “colocar a carreta na frente dos bois”. Às vezes é conseqüência de muito entusiasmo e pouco planejamento. A parte mais bonita de qualquer projeto é sempre a divulgação, mas não se pode descuidar da logística.

Em parte eu entendo motivações assim. Na minha infância, em minha curta mas intensa fase de fanático por futebol, decidi que iria fundar um time. E comecei pelo essencial: compus o hino do clube. Depois, pensei na cor da camiseta. Estava em dúvida entre dois nomes para o time. Cheguei a elaborar um formulário para “convocação” de amigos meus que jogavam bem. Um deles acompanhou mais de perto o meu delírio e foi contagiado, imaginando a emoção de jogar preliminares no Olímpico e no Beira-Rio. Um detalhe que não citei até agora, e que deve estar sendo motivo de boas gargalhadas para quem me conhece, é que eu nunca joguei nada de futebol. Mas queria fundar um time e fazer parte dele.

Assim também, às vezes acompanho os sonhos de grandeza de alguns jovens na Internet, querendo organizar megaeventos sem se preocupar com a viabilidade ou infraestrutura ou fazendo o lançamento bombástico de sites que nunca deslancham ou que pouco acrescentam aos demais. Nos anos 80 houve uma febre de fã-clubes, quase todos divulgados no espaço que a revista Somtrês abria para esse fim. Muitos não passavam do primeiro fanzine, isso quando chegavam a editar alguma coisa. Mas pessoas maduras também incorrem nesse erro. Há cerca de dez anos, Alberto Dines fez um comentário na revista Imprensa sobre a mania do brasileiro de começar mas não continuar. No início é um tal de soar trombetas e rufar tambores, mas depois os projetos raramente têm continuidade.

No fim, acabei não contando que me inscrevi no tal portal dos “apaixonados por leitura”. No dia seguinte, voltei lá para ver se algum dos “breves” tinha desabrochado. Encontrei a seguinte mensagem:

“Prezados leitores, devido ao grande número de acessos, foi necessário retirarmos
o site temporariamente do ar para reparos técnicos. Tente novamente dentro de algumas horas. Agradecemos a compreensão.”

Isso foi ontem. A mensagem está lá até hoje. Começaram bem. Mas eu prometo que, se o site se consolidar e conseguir colocar em prática tudo o que está prometendo, citarei o nome e fornecerei um link. Até lá, aguardemos.