Um Verissimo legítimo
Quando me perguntam, fora daqui, se é verdade que há uma Gisele Bündchen em cada horta na zona de colonização alemã do Rio Grande do Sul, respondo que não, que há várias. Digo que a família põe todas a trabalhar desde cedo, e as que não dão para a roça é que vão ser modelos. E não adianta discutir.
a) Mas pai, eu quero trabalhar na roça.
b) Não pode, guria, Tu não dá pra coisa. Vamo ter que te mandar pra agência Ford.
E lá vai ela ser modelo e desfilar pelo mundo, pensando o tempo todo nas suas irmãs plantando e colhendo e depenando galinha e namorando o Altemiro e se divertindo na roça, e suspirando.
Também digo que na zona de colonização italiana é a mesma coisa, e que quando dizem para um pai da região que uma filha dele é a cara da Sophia Loren moça e vão levá-la para a televisão, ele pensa: "Ainda bem que não viram as bonita". E também digo que se as nossas alemoas e gringas impressionam tanto, é porque não viram o que deu a cruza de português com castelhano, negro e índio, e que forma uma espécie de reserva de mulher, a ser melhor explorada quando descobrirem o seu valor, um pouco como o nosso carvão.
E quando chegam aqui e me perguntam o que a gente faz com as gaúchas feias, eu confirmo a suspeita. Sim, é verdade, elas ficam trancadas para não aparecer para forasteiros e estragar a nossa reputação nacional. Mas não é uma coisa tão desumana quanto parece. O lugar onde elas ficam é confortável, elas são bem tratadas, e o beliche dá para as duas.
Luis Fernando Verissimo
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