Férias solitárias
Como estou sem companhia e com pouco dinheiro, decidi que iria tirar férias para trabalhar. Aproveitaria meu tempo livre para pegar "bicos" de tradução. E não posso me queixar: o trabalho está aparecendo. Não sobrou muito tempo para descansar nesses últimos dias. Adoraria comentar com vocês o que tive que traduzir, mas hoje mesmo assinei um termo de compromisso de ética profissional com a empresa que me contrata, depois de oito anos de uma relação de confiança e informalidade. O documento não prevê sanções para o seu descumprimento e tem uma cláusula só pra dizer que a anterior tem que ser estritamente observada.
Seja como for, esta experiência de trabalho domiciliado está me fazendo valorizar algumas vantagens que o meu emprego oferece que não são anunciadas no momento do concurso. Quais sejam:
1) Dois aparelhos de ar condicionado na sala com uso franqueado da energia elétrica.
2) Faxina diária no ambiente de trabalho por conta da empresa.
3) Uso franqueado de computador e impressora para as atividades de trabalho, incluindo assistência técnica.
4) Iluminação adequada por conta da empresa.
5) Uso franqueado do telefone para assuntos de trabalho.
6) Uso franqueado da Internet para assuntos de trabalho.
Trabalhando em casa, enquanto não colocar acesso rápido, tenho que me policiar nas consultas à Internet, ou acabarei usando o dinheiro das traduções para pagar a conta do telefone. Ah, e a de luz, também. Isso que o ar condicionado fica no quarto e sua refrigeração mal chega até a sala. Coloquei uma lâmpada de 150 W e parece que a iluminação não é suficiente. Sem falar a bagunça ao meu redor, pois a faxineira vem uma vez por semana. O resultado é que estou com saudade do meu ambiente de trabalho. Não necessariamente do trabalho, mas do ambiente.
No tempo em que eu atendia público, até me ocorriam algumas fantasias de poder trabalhar em casa. É que, além de atender no balcão, eu ainda executava alguns serviços de retaguarda que exigiam concentração, como a localização de diferenças contábeis, por exemplo. E volta e meia eu era interrompido por um cliente. Eu imaginava que tranqüilidade seria poder examinar aquelas listagens em casa – leia-se a da minha mãe, pois eu ainda morava com ela. Hoje é diferente. Recebo no meio do SPAM ofertas de "trabalhe em casa", como se fosse uma grande vantagem. Para quem só faz isso, até pode ser. Mas aí o ambiente em casa tem que ser muito bem projetado.
Lá fora até que a temperatura amenizou um pouco, mas meu apartamento retém calor. Dei uma passada no supermercado agora mesmo. O lay-out do súper foi completamente modificado, mas desconfio que seja para maquiar o sumiço de certos produtos. Eles pensam que a gente não nota. São 10 e 20 da noite e só agora vou ler o jornal. Estou começando a pensar em ir uns dias para a praia. Nesta época as diárias em hotéis são caras, mas qualquer praiazinha mixuruca no litoral gaúcho já me quebra o galho. Só quero mesmo caminhar e tomar banhos de mar. A água de nossas praias deixa a desejar no quesito limpeza, mas gosto da infinitude de areia para os dois lados. Dá vontade de caminhar sem parar. Se não chover. Se não ventar muito. E se não tiver um sol de rachar.
Enfim, agora entendo melhor meus colegas que não se aposentam. Ou não gostam da perspectiva de terem que agüentar os filhos pentelhando 24 horas por dia, ou no fundo sabem que perderão o direito ao ar condicionado, faxineira, iluminação e, claro, a maravilhosa companhia dos colegas que o emprego proporciona. O plano de aposentadoria deveria prever a manutenção de todas essas vantagens.
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