Os 50 anos da Continental "clássica"
Tudo começou quando Fernando Westphalen, também conhecido como Judeu (embora não o fosse), recebeu um convite para ser diretor dessa emissora da Rede Globo de Rádio que só dava prejuízo. Já tinha decidido recusar, mas foi convencido por um amigo a pelo menos ir até o Rio de Janeiro para visitar o Hipódromo da Gávea, já que era ex-narrador de turfe apaixonado pelas corridas hípicas. Na hora da negociação, faz propostas absurdas, apenas para constar. Para sua surpresa, o alto salário e comissão que pediu foram concedidos. Não lhe restou alternativa senão abandonar seu emprego na agência de publicidade MPM e aceitar o cargo.
A ideia de Judeu era fazer uma rádio jovem nos moldes da Mundial do Rio, inclusive aproveitando algumas vinhetas. Mas a coirmã de Porto Alegre logo adquiriu identidade própria. Alguns aspectos foram marcantes. Primeiro, a programação musical. Um comissário de bordo da Varig (o "Agente 1120", como era chamado) trazia os lançamentos em single que eram imediatamente colocados na programação da rádio. Com isso, o público de Porto Alegre conhecia em primeira mão músicas que só muito depois sairiam no Brasil (para frustração dos lojistas, que nem sempre dispunham dos discos que os clientes procuravam). O noticioso "1120 é Notícia" provocava a ditadura com seu tom irônico. A rádio chegou a ser suspensa por três dias em 1973, além de enfrentar multas, ameaças de bomba e visitas à polícia para depoimento.
Às 6 da tarde, o radialista Cascalho (Antônio Carlos Contursi), inspirado no estilo do carioca Big Boy, era irreverente e falava gírias - algumas criadas por ele próprio, como "magrinho" e "tric tric rolimã". A popularidade do "Cascalho Time" chegou a tal ponto que os termos "magrinho" e "magro" se incorporaram ao vocabulário dos jovens gaúchos dos anos 1970. "Magrinho" era o garotão moderno, avançado, descolado, que usava roupas transadíssimas e curtia um som da pesada (como se dizia naquele tempo). Já "magro" era uma designação genérica para qualquer jovem do sexo masculino, independente do peso.
Em 1974, graças ao apadrinhamento do professor José Fogaça, do IPV, cursinho que era anunciante na rádio, a Continental começou a divulgar gravações do grupo Almôndegas, na época formado por Kleiton, Kledir, Quico Castro Neves, Pery Souza e Gilnei Silveira. No ano seguinte, teve início o "Mr. Lee em Concerto", às 10 da noite, a princípio rodando apenas country music. Mas o radialista Júlio Fürst resolveu abrir uma janela dentro do programa para tocar músicos gaúchos. A resposta dos ouvintes foi extraordinária. Assim começou o chamado "movimento musical gaúcho" dos anos 1970, com artistas como Hermes Aquino, Fernando Ribeiro, Inconsciente Coletivo, Hallai Hallai, Gilberto Travi & o Cálculo IV, Bizarro, Mantra, Nélson Coelho de Castro e muitos outros.
As poucas concorrentes que a Continental teve em AM (basicamente a Pampa e a Rádio Porto Alegre, esta de curta duração) não chegaram a ameaçá-la, mas a vinda das FMs na segunda metade da década começou a mudar tudo. Como competir com som estéreo de boa qualidade? A Continental resistiu até 1981. A FM homônima que existe hoje foi inaugurada em 1992 e, embora tente aproveitar o prestígio do nome, é outra rádio. Recomendo o livro "Continental, a Rádio Rebelde de Roberto Marinho" de Lucio Haeser para quem quer conhecer a história da Continental "clássica" e da Porto Alegre dos anos 1970.
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