sexta-feira, maio 11, 2018

Meu primeiro amor

Quem me conhece sabe que sempre fui do tipo romântico e apaixonado, desde a mais tenra idade. Mas qual terá sido o meu primeiro amor? Tive uma namoradinha no Jardim aos cinco anos, inclusive reconheço-a na foto da turma, mas não lembro o nome dela. Digamos que não foi nada sério. No primeiro ano primário, aí sim, tive um namoro firme com uma menina um ano mais jovem, com direito a beijinhos inocentes na Kombi que nos deixava em casa (morávamos no mesmo prédio e éramos os últimos a sair) e troca de presentes no dia 12 de junho de 1968. No quarto ano, não namorei ninguém, mas tive pela primeira vez a sensação de estar realmente apaixonado por uma colega de aula. Com apenas dez anos? Sim, eu garanto a vocês que era um amor muito verdadeiro. Mas acho que não foi correspondido.
Pensando bem, o meu primeiro amor mesmo, de verdade, foi... a Rita Pavone! Eu tinha quatro anos, mas juro a vocês que eu gostava dela. Deem um desconto, eu era inexperiente, ainda não havia amadurecido o meu gosto para o sexo feminino. Mas alguma coisa naquele rostinho sardento e sorridente me encantava. Eu dizia a todos que iria casar com ela. Lembro que fiquei bem chateado quando meu irmão João Carlos me falou que ela estava namorando não sei quem (hoje sei: era o Netinho dos Incríveis). Isso foi na mesma época em que descobri Beatles e Jovem Guarda com meus irmãos, que eram adolescentes.

Depois disso, veio aquele período entre seis e dez anos em que me afastei da música e passei a ouvir discos infantis. Mas, de vez em quando, tinha algumas recaídas musicais. Na Kombi que me levava para casa em 1969, o motorista vinha escutando a parada de sucessos no rádio. Todos os finais de tarde, invariavelmente, eu ouvia "Stella" com Fábio, "Sentado à Beira do Caminho" com Erasmo Carlos e... "Zucchero", com Rita Pavone. Foi um sucesso menor da cantora num período em que esteve na gravadora Ricordi (o locutor sempre dizia o nome do selo). Numa tarde em que fiquei doente e não fui à aula, meu pai comprou o disco para mim. Sérgio Murilo chegou a gravar uma versão, "Açúcar".

Aos 11 anos, meu gosto musical foi reacendido e nunca mais se apagou. Acabei resgatando Beatles e Jovem Guarda nos LPs que adquiria com o dinheiro de minha mesada. Rita Pavone? Quase não havia mais nada dela em catálogo. Quando queria matar a saudade da minha paixão de infância, escutava o primeiro LP dela, que era de meus irmãos e acabou ficando para mim. Ali estavam quase todas as minhas músicas preferidas, como "La Partita di Pallone", "Alla Mia Etá", "Clementine Cherie", "Sul Cucuzzolo", "Come Te Non C'é Nessuno" e "Il Ballo del Matone". De vez em quando, ouvia também o compacto "Zucchero". Bem mais adiante, já nos anos 80 e 90, começaram a sair coletâneas de Rita Pavone em vinil e CD. Comprei algumas.

Rita Pavone veio ao Brasil em 1987, mas não a Porto Alegre, infelizmente. Naquele tempo, cheguei a assinar o fanzine brasileiro "Pavoníssimo", como forma de obter informações atualizadas sobre ela. Na era pré-Internet, quem quisesse saber mais sobre seus ídolos tinha que recorrer a fã-clubes. Anos depois, tomei conhecimento de que ela tinha abandonado a carreira artística. Por isso, foi com grata surpresa que fiquei sabendo não só que ela estava voltando aos palcos, mas que finalmente viria à capital gaúcha! Foi uma notícia ótima e inesperada. Convidei minha irmã para ir comigo, pois era com ela que eu ouvia Rita Pavone na infância. Estaremos lá amanhã, na primeira fila do Teatro do Bourbon Country, realizando um sonho de mais de 50 anos. Quem diria que eu ainda teria a chance de ver de perto o meu primeiro amor. Hoje é apenas um ídolo da música, que fique bem claro! Mas uma artista que teve um significado quase histórico na minha vida.