domingo, abril 15, 2018

A questão do voto nulo

Eu queria guardar este assunto para mais perto da eleição, mas não vai dar. É uma polêmica que está bombando no Facebook e que até já citei aqui de passagem, mas agora vou abordá-la com mais profundidade.

De repente, a campanha contra o voto nulo tornou-se uma bandeira que os dois lados empunham nas redes sociais. E o discurso é sempre o mesmo: não podemos nos omitir, quem anula o voto não pode reclamar depois, blá blá blá.

Pois é. Mas como fazer, em especial num segundo turno, quando existe igual rejeição a todos os candidatos? Em tese, o voto é a mera formalização da preferência do eleitor. Se ele não prefere nenhum, qual a lógica de obrigá-lo a favorecer um ou outro? Em outras palavras, a "mentir" para a urna que aprova um dos concorrentes? Nesses casos, anular o voto é até uma atitude de respeito com os eleitores que têm candidato. Assim, o fiel da balança não será alterado por escolhas meramente aleatórias

Depois de ler diversas mensagens a respeito, entendi melhor a situação. Na fantasia dos que defendem essa causa, cada eleitor que anula o voto está deixando de votar no candidato deles. Ou seja, quando alguém diz "não anule o voto", na verdade está querendo dizer: "vote no meu candidato". Mas não é assim que funciona na prática. O indivíduo pressionado a fazer uma escolha pode acabar beneficiando qualquer dos lados. Não vai muito longe: quem garante que Lula e Dilma não receberam um contingente significativo de votos sem muita convicção? De gente que votou neles cedendo à pressão para não se omitir? Sinto-me à vontade para fazer essa observação porque ambos tiveram meu voto consciente.

Outra constatação curiosa é de que a esquerda pensa que os votos nulos favorecem a direita e vice-versa. Cada lado atribui a eleição de um candidato indesejado aos votos nulos. Gente, por favor: voto nulo não favorece ninguém! É até uma questão de lógica. Os votos que fazem a diferença são os válidos! Se querem prevenir o desperdício de votos, sejam honestos e coerentes: façam campanha para o candidato de vocês! Assumam sua verdadeira intenção e peçam votos a ele! Isso, sim, faz sentido. Obrigar o eleitor a escolher qualquer um só para não se abster é como querer que alguém case na marra, sem ter achado a pessoa certa, apenas para preservar a tradição familiar.

Por fim, duas questões. Primeira: vale para o eleitor que anula o voto a mesma regra daquele que é voto vencido, ou seja, respeitar o resultado da eleição. Não tumultuar a ordem democrática com o objetivo de prejudicar o candidato legitimamente eleito. Ninguém pode se eximir com aquela velha desculpa de que "não tenho nada com isso, não votei nele". Segunda: todo cidadão tem direito de exigir o melhor dos políticos eleitos, mesmo que tenha anulado o voto. Afinal, eles são representantes e governantes de todos e não apenas de seus eleitores.