Liberdade com responsabilidade
É curioso que algumas vozes se rebelaram, alegando cerceamento de liberdade de expressão e condenando a chamada "patrulha do politicamente correto". Concordo que às vezes ocorrem excessos nesse sentido. Há casos em que falta espírito esportivo para aceitar bem uma piada, como, por exemplo, quando o Casseta e Planeta começou a debochar dos gaúchos. Mas, a meu ver, o quadro "Casa dos Autistas" incorria numa falha bem mais grave: desumanidade. Eu teria uma opinião semelhante se o alvo da sátira tivessem sido os deficientes físicos, por exemplo.
O fato é que nós, brasileiros, vivemos por muito tempo sob um regime de censura e repressão. Então hoje passamos por uma situação inversa em que, não raro, perdemos a noção de limite. É o famoso "quem nunca comeu mel, quando come se lambuza". E aí ouvimos no rádio músicas como aquela dos Devotos de Nossa Senhora Aparecida (as iniciais são "P.N.S.C") ou "Tô Tristão", do Casseta e Planeta. Não vai muito longe: em 1995, crianças de todo o Brasil cantavam: "Fui convidado pruma tal suruba..." Meninas de menos de oito anos sabiam de cor as letras dos Mamonas Assassinas sem nem mesmo entender o que significavam. Não estou criticando, eu achava os Mamonas muito divertidos. Mas que era inusitado, era. Lembro de uma garota em Santa Catarina, uns sete anos no máximo, cantando todo o "Vira Vira" ao microfone, no restaurante do hotel. Hoje, já adulta, ela deve lembrar a cena e pensar: "Ui! Como dói..."
De vez em quando aparece alguém se fazendo de vítima no Orkut porque foi expulso de uma comunidade. "Não existe democracia, o moderador é um ditador, blá blá blá..." Mas, quando se vai ver o que o pobre injustiçado fez para sofrer tão rigorosa sanção, fica-se estarrecido. Um dos proscritos entrou na comunidade dos fãs de um astro da Fórmula 1 para chamá-lo de "piloto de bosta". Outro encheu de desaforos o moderador por ter excluído uma mensagem postada em tópico indevido, de acordo com as regras da comunidade. Eu próprio já afastei um inconveniente de minha comunidade sobre Mario Quintana por ofender um dos membros, chamando-o de mentiroso e o desafiando de forma agressiva a "provar" que realmente se encontrara com Elena Quintana. Tempos depois esse mesmo integrante ofendido me apresentou à sobrinha do poeta e rimos muito lembrando o episódio. Retirar de um ambiente uma pessoa que não sabe se portar não é abuso, é respeito aos demais.
Pois, da mesma forma, tirar do ar esse programa horroroso da MTV também é uma questão de respeito. Eu próprio sou contra a censura, como fiz questão de dizer na mensagem que enviei a meus amigos do Orkut, pedindo apoio. Mas para tudo existe um limite. Hoje que vivemos numa democracia, precisamos aprender a exercer a liberdade com responsabilidade.
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