30 anos de Kleiton e Kledir
Já em dezembro 1975, ambos foram a Uruguaiana defender "Piquete do Caveira", de Kledir e Fogaça, na Califórnia da Canção Nativa. Venceram na categoria "Projeção Folclórica". Eles já integravam os Almôndegas e o grupo estava no auge em todo o Rio Grande do Sul, com o sucesso do primeiro LP. Como a gravadora que lançava os discos da Califórnia era a mesma do conjunto - a Continental – o crédito na contracapa do LP ficou assim:
Mais tarde essa gravação foi incluída no LP "Gaudêncio Sete Luas", que a Continental lançou em 1977 para continuar faturando com os Almôndegas depois que eles foram para a Phonogram. Era apenas uma coletânea, mas com aspecto de disco normal. Por fim, "Piquete do Caveira" ao vivo apareceu ainda no CD lançado em 1995 com a mesma capa do LP "Aqui" (embora fosse também uma coletânea e não o disco original relançado).
Hoje parece inevitável que Kleiton e Kledir viessem a formar uma dupla, mas talvez isso não tivesse acontecido sem o empurrãozinho do Festival da Tupi. A despedida dos Almôndegas foi nos dias 30 de junho e 1º de julho de 1979 no Salão de Atos da UFRGS, em Porto Alegre. Na época, Kledir afirmou ter recebido propostas de três gravadoras diferentes para lançar um disco solo, mas preferia dar um tempo para "carregar um pouco as baterias". Kleiton voltou à capital gaúcha para terminar a Faculdade e chegou a fazer algumas apresentações sozinho. Com o surgimento da competição, Kleiton compôs uma melodia tipicamente gauchesca e a enviou para o irmão no Rio de Janeiro em cassete (lembrem-se: não havia mp3 ou Internet). Kledir fez a letra. Assim nasceu "Maria Fumaça", que acabou entrando no Festival.
O mestre de cerimônias no Anhembi era o escritor e desenhista Ziraldo, que anunciou a dupla como "Kledir Ramil e Kleiton Ramil" e destacou o aspecto humorístico da composição. Aliás, o nome artístico "Kleiton e Kledir" ainda não tinha sido adotado. Na Zero Hora, o jornalista Juarez Fonseca noticiava que "Kledir e Kleiton" iram participar do Festival. Divulgada a classificação da canção para a fase final, os músicos retornaram para reapresentá-la. Ziraldo aproveitou para fazer uma menção em tom de homenagem ao flautista Plauto Cruz, que integrava o grupo de acompanhamento e recebeu aplausos da plateia. "Maria Fumaça" não venceu, mas ganhou menção honrosa na final. E foi muito bem recebida pelo público. O primeiro prêmio foi para "Quem Me Levará Sou Eu", de Dominguinhos, na voz do cearense Fagner.
Infelizmente, a repercussão do "Festival 79", como era o nome oficial, ficou restrita aos aficcionados por música. A audiência maior era da Globo e a TV Tupi dava seus últimos suspiros. O LP que deveria ter sido lançado com as músicas finalistas (conforme anunciado por Luiz Armando Queiroz no próprio festival) acabou não saindo. Algumas das concorrentes nunca chegaram a ser lançadas em disco, pelo menos não com o mesmo intérprete. Por exemplo, Caetano Veloso cantou "Dona Culpa Ficou Solteira", de Jorge Ben, mas quem veio a gravá-la foi Cauby Peixoto, no LP "Cauby, Cauby" (com participação do autor e o nome encurtado para "Dona Culpa"). Elba Ramalho defendeu "América", de Cláudio Lucci, com acompanhamento do grupo Moto Perpétuo (já sem Guilherme Arantes na formação), mas também ficou inédita em disco. O único sucesso imediato do festival foi "Bandolins", com Oswaldo Montenegro e José Alexandre, lançada em compacto.
Até que, em outubro de 1980, quase um ano depois, chegou às lojas o primeiro LP de Kleiton e Kledir, pela Ariola. As rádios começaram a tocar "Maria Fumaça" e os ouvintes gaúchos se apaixonaram pela história do noivo que não quer chegar atrasado para o casamento em Pedro Osório. A partir daí, todo o mundo era fã de Kleiton e Kledir desde pequenininho! Antes mesmo do lançamento do primeiro álbum da dupla, o MPB-4 havia gravado "Vira, Virou", de Kleiton, e usado como faixa-título de seu novo LP. Eles já tinham interpretado "Circo de Marionetes", dos Almôndegas, no disco anterior, "Bons Tempos, Hein?" Os irmãos Ramil participaram como convidados nos shows do quarteto em 1980 e, embora cantando apenas três ou quatro músicas, deixaram sua marca. Além das canções citadas, também "Fonte da Saudade" virou sucesso. E hoje pouca gente lembra que "Roda da Fortuna" foi o tema principal da novela "Cavalo Amarelo", da Bandeirantes.
Mas o primeiro show completo de Kleiton e Kledir como dupla possivelmente aconteceu na praia gaúcha de Tramandaí, em 7 de fevereiro de 1981, um sábado. Foram acompanhados pela Banda Areia, que havia tocado com o MPB-4 (e a dupla) no ano anterior. O concerto gratuito à beira-mar começou às 11 da manhã com Telmo de Lima Freitas, depois a banda Eureka (com Hermes Aquino na formação, voltando às origens roqueiras cinco anos depois de "Nuvem Passageira") e o antológico Saracura. Os irmãos subiram ao palco às duas da tarde e poderiam ter aproveitado que era uma apresentação coletiva para não se estender muito, mas fizeram exatamente o contrário. Depois que todos os sucessos do primeiro LP já tinham sido executados, Kleiton disse: "Viva o tempo dos Almôndegas! Viva o Quico, o Zé Flávio, o Pery, o João Batista e o Gilnei" (não lembro exatamente a ordem, mas todos foram citados). E tocaram diversos clássicos do antigo grupo. Como surpresa, ouviu-se a ainda inédita em disco "Couvert Artístico" (tema instrumental que os Almôndegas já tinham tocado numa versão bem mais longa no show de despedida) e "Xote de Jaguarão", de Kledir, que seria gravada por outra banda que se apresentou naquele dia, o Saracura.
Em 1981, enquanto preparavam o segundo LP, Kleiton e Kledir montaram sua própria banda para acompanhá-los em turnê. E quem chamaram para guitarra e baixo respectivamente? Zé Flávio e João Batista, assim unindo novamente os quatro Almôndegas da última formação. E se, no ano anterior, foram convidados de MPB-4, desta vez eles, Kleiton e Kledir, é que teriam uma participação especial em seus shows: o caçula Vitor Ramil em começo de carreira. O novo disco os consagrou definitivamente com "Deu Pra Ti", "Paixão" e "Trova", transformando-os em ídolos nacionais. E sem abrir mão do sotaque gaúcho.
A história de Kleiton e Kledir não termina aqui, mas a título de homenagem, decidi contar apenas os primeiros capítulos. E tudo começou com o Festival da Tupi. Abaixo está o áudio daquela apresentação histórica, há 30 anos, gravado da televisão e gentilmente cedido por meu amigo Luiz Juarez Pinheiro, de Curitiba. Usei trechos do clipe e fotos diversas para enriquecer a parte visual, mas o objetivo é mesmo o de relembrar a gravação. Os vídeo-tapes do Festival ainda devem existir, de forma que um lançamento em DVD seria mais do que bem-vindo.
Ah, sim: 22 de novembro é também o Dia do Músico. E, por escolha dos fãs, com a devida aprovação dos ídolos, passa a ser também o Dia de Kleiton e Kledir. Porque eles surgiram oficialmente como dupla nesta data em 1979.
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