segunda-feira, julho 20, 2009

Fogo de palha

Fiz duas faculdades. Em ambas, observei um fenômeno comum e interessante. No primeiro e segundo semestres, alguns colegas demonstravam um ânimo extraordinário. Participavam em aula, perguntavam, contestavam, marcavam presença. Alguns chegavam a conversar sobre a matéria nos intervalos, exibindo um notável interesse pelo curso.

De repente, sumiam. Tinham desistido da faculdade.

Não vou dizer que todos os que tinham esse perfil abandonavam na metade. Mas lembro de vários. E tento imaginar por que isso acontecia. Acho que chegavam com muita expectativa e acabavam se decepcionando. Ou talvez fossem pessoas com temperamento do tipo "fogo de palha". Daquelas que encaram qualquer novidade com um entusiasmo exagerado, depois se desinteressam.

Até entre os fanáticos por música se encontra gente assim. Dois notórios fãs de David Bowie do exterior já leiloaram suas coleções inteiras na Internet. Não porque estivessem precisando de dinheiro, necessariamente, mas por um repentino desapego pelo material que haviam acumulado com tanta avidez. Foi só uma febre. Passou.

No meu caso, acho que gosto de fazer as coisas devagar e sempre. Tenho, sim, minhas decepções. Mas geralmente me arrependo do que interrompi e não do que levei até o fim. É preferível dar uma chance à persistência a iniciar mil projetos e não concluir nenhum. Pessoas que agem assim acabam criando o hábito de desistir logo. Isso depois de um começo bombástico, com soar de trombetas e rufar de tambores. E, em alguns casos, envolvendo os sentimentos e expectativas de outros. Para depois os planos todos serem abortados.

Normalmente costumam-se aconselhar os amigos a colocar logo em prática antigos planos. Acho uma ótima sugestão, mas acrescentaria: que tal continuar o que já foi iniciado? Dependendo da situação, pode ser uma boa pedida. Principalmente se for algo que tenha princípio, meio e fim. E gere frutos ao final. Empreitadas incompletas não acrescentam nada ao currículo.