quarta-feira, abril 04, 2007

Sem noção

Hoje no supermercado vi uma cena que me deixou revoltado. Percebi que atrás de mim, ao lado do caixa de trás, havia uma senhora gorda falando alto e gesticulando espalhafatosamente. Eu sou gordo, mas tenho que admitir: o gordo consegue ser mais chato, mais ridículo e mais inconveniente do que o magro. Não que todos os gordos sejam chatos, mas um gordo chato é insuperável. É muito mais chatice por centímetro cúbico. Um chato magro nunca será páreo para ele. Pois bem: da forma como essa gorda chata falava, parecia ter comprado briga com alguém. Mas resolvi prestar atenção. Ela dizia:

- Tu é burra! Tem caixa especial! Pra que ficar entrando na fila?

Aí percebi que uma simpática vovó, bem magrinha, estava pagando suas compras. E disse, entre tímida e envergonhada:

- É que eu não quero me sentir uma inválida...

Ao que a gorda, com sua peculiar inconveniência, retrucou:

- Mãe, tu tem que te convencer que já é uma anciã!

Ô mulher sem noção! Tudo bem, sou totalmente a favor de caixas especiais para idosos. Mas também acho que as manias e constrangimentos das pessoas têm que ser respeitados. Tem gente que parece ter um prazer sádico de humilhar as pessoas em público tocando em seus pontos fracos. "Deixa de bobagem, tira a dentadura, aqui ninguém se importa!" Só que nessa situação do supermercado ainda existia um agravante: a senhora idosa, mãe da gorda, parecia ser dessas que não se entrega, que não se deixa abater pela idade. Pode ser, como disse a filha com a sutileza de uma jamanta com buzina trancada, "uma anciã", mas insiste em ser uma pessoa igual às outras em todos os sentidos. Mas a filha queria que ela assumisse a sua condição de idosa. Se quisesse realmente ajudá-la, daria um jeito de levá-la discretamente para o caixa especial. Mas não, ela chamava a mãe de "burra" aos berros. Essa gorda merecia ganhar de sua mãe um fio dental bem sumário para usar no próximo verão. Aí, na praia, a mãe diria: "Tira a camiseta, qual o problema, ninguém vai reparar nada..."