Multa contratual
No caso, o que me fez encomendar esse lançamento o quanto antes foi a constatação de que ele não estava mais disponível para venda na CD Point, a melhor loja brasileira para compra de CDs e DVDs importados. Achei melhor não esperar mais, ou correria o risco de ver o produto sair de catálogo. Como não havia mais a chance de consegui-lo por aqui mesmo, lancei mão de um recurso que há quase dois anos não usava: importei via Amazon. Eu sabia que teria que pagar taxa de importação quando chegasse, mas paciência. Eu queria muito ter essa relíquia. É um pacote de três DVDs com praticamente tudo o que existe em som e imagem sobre a Apollo 13, incluindo a cobertura antes, durante e depois da missão, além de documentários diversos. Segundo a informação da caixa, são mais de 12 horas de vídeo no total. Todos os lançamentos da Spacecraft Films são primorosos, mas por esse eu tinha um interesse maior, em razão do acidente que até virou filme. Eu adoro registros históricos em vídeo.
Só que acabei pagando mais em imposto do que o preço original da mercadoria. Incrível: além da taxa de importação, incidiu também ICMS – "herança do Rigotto", como explicou a caixa que me atendeu. Se é lei, não me nego a pagar. Mas sempre que recolho imposto sobre CDs ou DVDs importados, a sensação que eu tenho não é a de estar cumprindo meu dever ou contribuindo com a indústria local. Não: eu me sinto penalizado, multado, por querer usufruir produtos que não deveriam estar a meu alcance. Onde já se viu eu, um brasileiro, querer assistir a imagens históricas da Apollo 13 num DVD que só saiu nos Estados Unidos? Tenho que ficar com minha novelinha e meu Big Brother e me dar por satisfeito! É como essa restrição fizesse parte do contrato que eu assinei para nascer neste país. Lá em cima alguém me ofereceu: "Estamos com uma promoção especial para nascer no Brasil. Você viverá numa economia instável, com alguns períodos de inflação galopante e mercado de trabalho precário. Também não terá acesso a produtos dos países desenvolvidos. Em compensação, não enfrentará neve, terremotos, furacões e, como vantagem, terá as melhores telenovelas, o melhor Carnaval e o melhor futebol do mundo." Devo ter aceito a oferta quando me disseram que eu poderia nascer no estado com as mulheres mais bonitas, no caso, o Rio Grande do Sul. Em compensação, cada vez que eu resolvo comprar mercadorias do exterior, estou cometendo a infração de desejar o que não é para o meu bico. O imposto é minha punição.
Talvez alguns pensem: "Azar o seu por querer ser certinho. Enquanto você está aí reclamando que pagou uma fortuna por um DVD importado, eu vou ali na esquina e compro uma cópia pirata do camelô por cinco reais. E a qualidade da imagem é a mesma!" É verdade que a imagem de uma cópia digital não perde qualidade. Mas mesmo que eu não valorizasse o produto original, poderia recorrer à pirataria? O camelô nem sabe que existe esse DVD! E ainda que eu mostrasse uma foto da embalagem, ele não saberia nem por onde procurar. Itens como esse só interessam a um nicho bem específico de consumidores, ainda mais no Brasil. Camelô só conhece título manjado, que as lojas têm pra vender aos montes por 40 reais e ele oferece por cinco. Já tive um problema semelhante quando tentei conseguir o CD-ROM "Microsoft Booshelf 2000", que é um pacote de dicionários. A edição anterior eu até comprei numa loja, mas a nova, aparentemente, estava fora de catálogo. Alguém me sugeriu que tentasse no camelô. Quando fui consultar se era possível conseguir, ele perguntou: "O que é isso, é um joguinho?"
Outro argumento que talvez passe pela cabeça de vocês é: por que eu me interesso por um fato histórico dos Estados Unidos e não do Brasil? Pois saibam que eu me interesso, e muito, por documentários em vídeo sobre a história de nosso país. A questão é que nem tudo ainda foi lançado em DVD. Em VHS até existem filmes sobre Getúlio Vargas, Jango, JK e a excelente dramatização "Independência ou Morte", mas foram lançados numa época em que ainda não existia no Brasil a cultura de se "ter" uma fita. Eu até queria comprar, mas não tinha onde. Enquanto não são relançados em DVD, a solução é copiar, mesmo. Ainda assim, saiu o filme "Muda Brasil", que já comentei aqui. Está nos planos comprar o DVD "Entreatos", sobre a campanha de Lula. Foram lançados também DVDs com o melhor do Fantástico. Só não me interessei pelo de humor e o de viagens, mas os outros dois são obrigatórios. Comprei o DVD do Jornal Nacional, embora ache que a priorização de reportagens temáticas em detrimento de notícias históricas tornou a coletânea pouco atraente. Na área da música, saíram caixas de DVDs de Chico Buarque, Tom Jobim e Elis Regina, todos na minha lista de "compráveis". Mas ainda tem muito mais por lançar. Por que não meter a mão nos arquivos e resgatar imagens da TV em preto e branco? Programas antigos, matérias antológicas, clips, entrevistas? É só lançar, que eu compro.
Lamento se prefiro usar meu televisor para assistir a DVDs selecionados em vez de acompanhar novela e Big Brother. Breve devo colocar TV a cabo para aumentar o leque de opções. Mas talvez seja melhor nem tomar mais conhecimento do que sai no exterior. Assim não corro o risco de cobiçar o que não é para o meu bico e só posso ter mediante pagamento de uma "multa contratual" – leia-se imposto de importação.
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