Novo boletim de Capão
Caminhando por entre as ruas do balneário, vinha pensando sobre uma peculiaridade de minha predileção por Capão e Atlântida, que sempre enxerguei como um local só. Para mim, o mar sempre foi apenas um entre muitos atrativos que a praia me oferece. "Ir à praia", no sentido estrito da expressão, nunca me foi essencial. Isso levou um amigo meu a concluir que eu "não gosto de praia". Mas não é bem isso. Não sinto é essa necessidade que outros têm de ir correndo para a beira-mar. Isso, realmente, não me faz falta.
Na infância, vir para a praia representava, para mim, caminhadas até Capão ou o centro de Atlântida para comprar meus adorados gibis. Na volta, eu me instalava em meu quarto ou em minha "barraca de índio" e lia todos. Normalmente deixava as revistas na casa da praia, mesmo, então relia tudo no veraneio seguinte. Além de comprar mais, é claro. As vindas à praia também eram para tomar sorvete, jogar cartas (o que hoje detesto) e ir ao Parque de Diversões. Depois surgiram os fliperamas.
Com um pouco mais de idade, descobri uma nova paixão: andar de bicicleta. Comecei a vasculhar as ruas de Atlântida, indo além do limite inicial da quadra onde ficava a casa. O verão de 1973 ficou marcado para mim como o veraneio da bicicleta. Lembro que torcia ansiosamente pela chegada do próximo, para revisitar os trajetos que eu fizera no ano anterior. E assim, por muitos anos, os passeios de bicicleta eram a marca registrada dos meus veraneios. E eu adorava. Continuava comprando gibis, mas em menor quantidade. Agora eu lia menos e ouvia mais música.
Por fim, houve a fase de atleta, aos 20 e poucos anos. E nisso as praias gaúchas são imbatíveis, com seu litoral reto, areia firme e aparente infinitude para os dois lados. Mesmo hoje, que não corro mais, continuo achando que nossas praias são perfeitas para uma boa caminhada. Talvez por isso, e por tudo o mais que descrevi, é que inicialmente me decepcionei com os balneários de Santa Catarina. Todos diziam que "aquilo sim que é praia", mas eu achei tudo muito pequeno e recortadinho. Pouco importava que a água fosse limpa. Isso não era o principal para mim.
Não se enganem: eu gosto do mar. Várias vezes pensei em gravar o barulho das ondas para ouvir depois na cidade. Mas prefiro curtir a praia ao cair da tarde, mais ou menos na hora do pôr-do-sol. A luminosidade deixa tudo mais bonito nesse horário. Sempre gostei de caminhar na praia, de tomar banhos de mar. O que nunca me fez falta é a "social" pela manhã com sol a pino em meio a uma superpopulação de guarda-sóis. Também não gosto de me "instalar" na areia, cheio de apetrechos, e ficar ali sentado horas a fio. Conheço gente que chega em Capão, não importa o horário, e a primeira coisa que faz é colocar roupas de banho e sair feito criança anunciando: "vamo pra praia!" Eu adoro Capão e Atlântida, mas por um conjunto de coisas das quais o mar é apenas uma delas. Foi assim que eu me acostumei.
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