Opiniões influentes
Isso às vezes é frustrante para quem não foi feliz em sua argumentação. Você está no trabalho, tentando expor suas idéias, mostrar o caminho que julga ser correto, e seus colegas não se convencem. Aí vem outro, diz a mesma coisa e todos param, raciocinam, refletem, ponderam e concluem que, "pensando bem", a idéia não é má. Por quê? Porque o outro sujeito é tido como um profissional competente, experiente, de visão. Se ele disse, no mínimo, merece ser analisado. Quando você falou, seus argumentos pareceram frágeis. Mas se o "bam-bam-bam" da empresa pensa o mesmo, acaba passando a impressão de que algo lhes escapou. Se ele pensa assim, deve estar certo. E como quem procura acha, os colegas acabam encontrando motivos para apoiar a idéia. Mas só depois que ela foi defendida por alguém de influência. Mas pode ser pior: muitas vezes ninguém lembra que você também havia feito a mesma sugestão.
É irritante, é injusto, mas é normal: quando alguém que desfruta de nosso respeito e confiança emite uma opinião contrária, no mínimo, isso nos faz refletir. Se um fanático religioso diz que é a favor do desarmamento, eu descarto a opinião como "típica". Mas no momento em que não só Luis Fernando Verissimo mas também Moacyr Scliar se posiciona no lado do "sim", minha tendência é pensar: será que algo me escapou? Dois gênios da literatura pensando diferente de mim? Esse fato é suficiente para me motivar a, pelo menos, ler os argumentos deles.
Em sua crônica "Por que sim", publicada ontem em Zero Hora, Verissmo expõe que prefere o desarmamento, "que dá mais recursos à autoridade para pegar o criminoso antes do crime, à banditização de todo o mundo." Já Scliar, em sua coluna de hoje, vale-se de sua experiência de médico para justificar seu voto. E acrescenta: "Um trabalho publicado no importante New England Journal of Medicine particularmente me impressionou: mostrava que, das armas guardadas em casa para eventual defesa contra assaltos, a imensa maioria era usada contra familiares." Nesta hora os crentes podem questionar: por que o "sim" de Verissimo e Scliar merece mais atenção do que o dos devotos? Por que me interesso pelos argumentos de dois escritores e não dos que agem movidos por sua fé? Entendo esse sentimento. E garanto a todos que também tenho fé.
As colunas citadas me fizeram pensar, sim. Eu estava disposto a rever minha posição se os argumentos me convencessem. Mas não convenceram. Continuo dizendo que os bandidos não serão desarmados. Ademais, eu, Scliar e Verissimo moramos em Porto Alegre, uma cidade em que a violência é ainda pequena se comparada ao Rio de Janeiro, São Paulo e outras capitais. Não vai muito longe: aqui mesmo, no interior do Rio Grande do Sul, os motoristas de táxi de Caxias do Sul equiparam seus veículos com cabines à prova de balas. É preciso, sim, combater o problema da criminalidade. Mas enquanto não vivermos num mundo ideal, acho temerário desarmar a população.
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