Fulano de Tal
Os irmãos de Tal eram empreendedores de destaque em sua cidade. Patrocinavam obras, organizavam campanhas, davam festas, enfim, estavam sempre em evidência. Fulano era o líder. Os irmãos Beltrano e Cicrano atuavam com ele. Dizem que a localidade prosperou graças aos esforços incomensuráveis dos de Tal. A notoriedade dos três chegou a tal ponto que começaram a levar a fama por feitos de outros.
- Que prédio fantástico, o que vai ser aqui?
- Alguma empresa do Fulano.
Ou então:
- Que obra bem feita, quem foi o arquiteto?
- O Fulano.
De vez em quando aparecia um chato pra dizer que não, não tinha sido o Fulano que tinha construído o edifício. Ou que determinado evento não era patrocinado por ele. Mas não adiantava. A admiração do povo pelos de Tal, especialmente pelo Fulano, era tanta, que era praticamente impossível convencer que nem todos os empreendimentos bem-vindos eram obra deles. Pior é quando vinham os elogios indevidos:
- Esse Fulano tem seu valor. Construiu a cidade praticamente sozinho.
- É mesmo. Aquela escola ali é bem o estilo dele, não tem como confundir.
No início, os de Tal até curtiram aqueles créditos indevidos, para desgosto dos verdadeiros detentores dos méritos. Até que um dia uma cobiçada socialite apareceu morta na saída de um motel. O assassino desapareceu. Num primeiro momento, não havia suspeitos. Mas por pouco tempo. Logo alguém falou:
- Foi o Fulano!
Pronto! Estava feito o estrago. Fulano ainda tentou explicar que estava em casa com Beltrano e Cicrano na hora do crime, mas isso só serviu para incriminar também os irmãos, que foram tidos como cúmplices. Depois de pensar em alguma forma de se defender, os de Tal concluíram que era tarde demais. Não possuíam provas e tinham conquistado inimigos entre os que haviam tido suas glórias roubadas pelos créditos indevidos. Corriam o risco de ser condenados ou pior, linchados. O que fazer?
Desapareceram. Nunca mais se ouviu falar dos de Tal. Dizem que fizeram operação plástica e assumiram novas identidades em uma cidade próxima. Passaram a se chamar João, Pedro e Paulo da Silva. Tiveram que abandonar também suas fortunas, passando a viver franciscanamente. Com isso, a fama mudou. Se alguém aparecesse com um carro velho caindo aos pedaços, logo alguém dizia:
- Deve ser um João da Silva qualquer.
Beltrano e Cicrano, ou melhor, Pedro e Paulo, levaram uma vida modesta, mas sem miséria. Já o novo João da Silva foi encontrado morto em sua casa, provavelmente ataque cardíaco. Dizem que foi depois de ouvir uma moradora que passava em frente dizer a sua amiga:
- Ontem vi aquele Fulano na rua.
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