segunda-feira, outubro 17, 2005

Pontos de vista

Já comentei este assunto em meu texto "Decisões e opiniões", mas a proximidade do referendo do desarmamento faz com que se torne relevante. É incrível como há pessoas que acham mesmo que conseguem fazer outras mudarem de idéia. A imagem de quem está nesta empreitada é típica: mãos espalmadas em direção à "vítima", expressão de indignação no rosto, testa franzida, olhar fulminante, tudo combinando para dizer, mesmo sem abrir a boca: como é possível que você não enxergue o óbvio?

Este é o ponto: nem todos conseguem perceber que as pessoas são diferentes nos valores, na formação, no modo de encarar o mundo. Existe uma tendência de achar que, quem não pensa como nós, é porque não está enxergando a situação em todas as suas implicações. Muitos se sentem na obrigação de "abrir os olhos" de quem tem opinião discordante. É aí que nascem aquelas discussões acirradas que nunca chegam a um denominador comum. Se o objetivo é apenas expressar pontos de vista, que assim seja. Mas em geral é mais do que isso: um dos participantes ingenuamente acredita que pode e deve convencer os demais de que estão errados.

No caso do desarmamento, vou votar não. Já tinha dito isso aqui no blog. Houve quem confundisse a minha determinação em desmascarar aquele texto adulterado e falsamente atribuído a Luis Fernando Verissimo como um apoio ao sim, ainda mais depois que ficou revelado que o próprio escritor votará a favor. Mas Verissimo é apenas um ídolo para mim. Aprecio seus textos, mas ele não influi no meu voto.

Aliás, isto também é engraçado: algumas associações de classe ou representação estão "orientando voto". Como assim? O voto não é individual, livre e secreto? Então danem-se, eu vou votar como quiser, não vou ouvir as bases, nem pedir ajuda aos universitários, nem às cartas, nem acompanhar o partido, nem coisa nenhuma. O voto é meu, só meu.

No entanto, por mais que eu tente respeitar posições divergentes, algumas posturas às vezes me deixam indignado. Certas linhas de argumentação que estão sendo usadas para defender o sim poderiam ser utilizadas, por exemplo, para proibir o comércio de automóveis. Vamos todos andar a pé ou de ônibus para evitar acidentes. Também o slogan "diga sim à vida" é um primor de distorção. O referendo é para genocídio? Sim à vida a gente diz evitando drogas, usando camisinha, dirigindo com prudência e prevenindo acidentes de trabalho. Sim à vida é concepção consciente, respeito ao próximo, preservação do meio-ambiente, auxílio a menores carentes e geração de oportunidades de emprego. Desarmar a população num país comprovadamente infestado por criminosos não irá fazer nenhum milagre pela paz.

Por tudo isso, o Blog do Emílio Pacheco orienta: votem não!