terça-feira, setembro 28, 2004

Decisões e opiniões

Algumas pessoas não percebem que é bobagem tentar demover alguém de uma decisão. Decisão é decisão, está tomada. É exatamente o oposto de indecisão, que é uma situação em que até cabe dar um conselho, se for solicitado. Mas querer fazer alguém mudar de idéia sobre uma resolução pronta só serve para deixar a pessoa irritada e, conforme o caso, confusa. Na prática, não ajuda em nada.

Em 1985 eu estava jantando com amigos no Pato no Cesto, na Getúlio, quando lhes dei a grande notícia: eu iria aos Estados Unidos! Um de meus sobrinhos, então com 14 anos, tinha ganho uma excursão a Disney World de presente dos pais e, no embalo, minha mãe perguntou se eu queria ir junto. Claro que sim! Além de visitar a Disney World, iríamos também a Washington e Nova York. Aí um de meus amigos, que tinha ido aos Estados Unidos sozinho e vivido uma aventura bem interessante, ficou cismado com a idéia de me convencer a não ir em excursão. "Emílio, vai sozinho, tu falas inglês, podes alugar um carro! Emílio, essa excursão não vale a pena, eu sei qual é! Vocês vão ficar um dia só em Washington!" E me olhava com expectativa, imaginando que suas palavras surtiriam algum efeito. É claro que ele só conseguiu me causar desconforto. No fim a excursão saiu e foi inesquecível.

Outra história de que lembro, embora não com detalhes, é a de uma estagiária de no máximo 17 anos que anunciou que estava noiva. A jovem estava feliz, já com expectativa de casamento, e queria dividir sua alegria com os colegas. Imediatamente foi cercada por mulheres que haviam fracassado em seus relacionamentos, as quais se puseram a tentar "abrir-lhe os olhos" para que não fizesse a "besteira" de casar tão cedo. A menina ali, de aliança na mão direita, apaixonada, teve que suportar as duchas de água fria das colegas mais experientes que queriam evitar que ela cometesse o "erro". Não sei o que aconteceu com a moça, mas espero que tenha se casado e sido muito feliz. E se houve ou houver separação depois, desejo que ao menos o tempo em que ficaram juntos tenha valido a pena.

Assim também, há quem acredite na possibilidade de mudar a opinião ou o posicionamento de um amigo com um discurso rápido. Ou pior: com um discurso demorado. Em geral o ouvinte não está nem prestando atenção no que está sendo dito, apenas torce para que o martírio da tentativa de lavagem cerebral acabe logo. Depois vem a pergunta inevitável: "Consegui te convencer?" E o amigo não sabe se diz a verdade ou mente para encerrar de uma vez o assunto.

Não adianta, decisões e opiniões não se mudam com palavras. Só é válido tentar fazer alguém mudar de idéia em casos críticos que envolvam drogas, crime ou suicídio. De resto, palpites são bem-vindos somente quando solicitados. Cada um sabe o que faz e deve arcar com as conseqüências de seus atos.