quarta-feira, agosto 03, 2005

O adeus dos cinemas

Eu não deveria lamentar o fechamento dos cinemas Imperial e Guarany, que terão hoje e amanhã suas últimas sessões. Os cinemas do centro de Porto Alegre já fecharam quase todos: Cacique, Scala, São João, Rex (esse fechou há décadas, muito antes da era do vídeo), Lido (idem), Marabá (idem – imortalizado em música de Júlio Reny) e Capitólio. Até o velho e popular Carlos Gomes, que teve sua época de sessão dupla Kung Fu/pornochanchada para depois se render ao sexo explícito, não existe mais. Aliás, mesmo em outros bairros os cinemas de minha infância e adolescência já se foram: Avenida, ABC, Ritz, Coral, Vogue, Marrocos, Baltimore, Astor... Mas não posso me queixar. Os cinemas de hoje são muito melhores, têm bons assentos, som primoroso, boa qualidade de imagem, enfim, em nada deixam a desejar. Houve uma época em que cheguei a recear que o videocassete pudesse afastar o público da tela grande. Mas o que aconteceu foi o fim das grandes salas e uma proliferação dos cinemas em shoppings.

Mas, por uma questão de nostalgia, eu tenho saudades de velhos cinemas de Porto Alegre. O Cacique, por exemplo, se eu soubesse que iria fechar, teria ido ver seu último filme, fosse qual fosse. Até os 26 anos eu morei no centro, na Siqueira Campos. Atravessava a Garagem Ceres, depois a galeria do Edifício Ouvidor, e chegava rapidamente ao Cacique. Lá vi “King Kong” quatro vezes em 1977. Se não me engano foi também lá que eu vi “Help”, dos Beatles, em 1966 (tinha cinco anos). Eu achava o Cacique um ótimo cinema sob todos os aspectos. Pelos padrões atuais, não sei se teria a mesma opinião. O último filme que fui ver no Cacique foi um em que Claude Van Damme fazia papel de dois irmãos gêmeos.

O antigo cinema Guarany, desativado em 1975, ficava praticamente ao lado do Imperial. Depois o mezanino do Imperial foi transformado em cinema à parte e herdou o nome do antigo vizinho. Foi no novo Guarany que vi o divertidíssimo “Por Favor Matem Minha Mulher”, até hoje minha comédia preferida. Já no Imperial a lista é bem maior. O mais marcante foi “Tommy”, que vi a primeira vez em 1976, depois mais três vezes em 1978, sempre lá. O último filme a que assisti no Imperial foi “Demolidor”, no ano retrasado. Achei as cadeiras um tanto desconfortáveis e o cinema como um todo com cheiro de mofo. Definitivamente, os tempos mudaram.

Talvez eu vá me despedir do Imperial, vamos ver. Gostaria mesmo é de poder reunir a velha turma de adolescência para me acompanhar. E comprar bala Azedinha ou Bonzinho e Gauchinho da Neugebauer para comer durante a sessão.

4 Comments:

Blogger Unknown said...

Não, Emílio, "Help" e "Os Reis do YeYeYe" passaram apenas no antigo Guarani.

1:36 PM  
Blogger André Freitas said...

Muito bacana seu registro. Após comer o bonzinho ou gauchinho assombrava no lado aberto da caixinha de papel duro e saia um som bem alto como se fosse um assobio. Nos filmes do Trinity então era certo! Grato pelas lembranças!

5:27 PM  
Blogger Unknown said...

O bonzinho era bolinha de chocolate recheada de crocante de caramelo e o gauchinho era a mesma bolinha com recheio de amendoim, esse belo passado com as caixinhas de papelão do tamanho e forma da caixinha de uma pimenta tabasco de hoje, mas agora viraram bibs! As balas azedinhas, se comesse mais de um pacote rachava a língua e enchia de aftas, mas eram boas e baratas! tinha também as balas de goma do tamanho de moedas, mais grossas que as de hoje que vinham enroladas como tubinhos.

1:07 PM  
Anonymous Anônimo said...

Adorei recordar. Lá no facebook, publiquei uma foto da embalagem do pão de mel Vienense, da Neugebauer, e estávamos falando do Bonzinho e Gauchinho. Aí pesquisando no google cheguei até seu texto super legal! No cine Capitólio, ainda criança, assistimos “Sissi”, depois “Sissi, a imperatriz” e ainda “Sissi e seu destino”. Todos protagonizados por Romy Schneider. Obrigada a você pelas recordações!

6:48 AM  

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