segunda-feira, junho 20, 2005

O fechamento dos parques

Sempre que alguém toma posição em um assunto polêmico, eu me pergunto o quanto dessa postura é embasada em argumentos sólidos ou apenas resultado de um idealismo romântico. Idealismo é bonito, mas nem sempre funciona na prática. Por exemplo: os transgênicos. Não tenho opinião formada, mas se conseguirem me provar que realmente não fazem mal, não vejo por que ser contra. A impressão que eu tenho é que muito do combate aos transgênicos vem de um discurso purista de "não mexer com a natureza" sem realmente analisar os prós e contras.

Leio hoje no jornal que será feito um plebiscito para decidir se os grandes parques de Porto Alegre devem ou não ser fechados. O cronista Paulo Sant’ana, que já foi vereador, luta pelo fechamento do Parque Farroupilha desde pelo menos 1975. E sempre que ocorre um crime lá dentro ele aproveita para repisar a questão, dando a entender que o cercamento teria evitado o fato. Será mesmo? Cercar um parque, no fundo, seria uma forma de proteger o cidadão de sua própria irresponsabilidade, pois todos sabem que é perigoso entrar em um parque à noite. Quem o faz já está assumindo um risco desnecessário. O cercamento não impediria assaltante e assaltado de se encontrarem em outro local.

Quando meu filho era nenê, eu e a mãe dele estávamos procurando um cercadinho onde pudéssemos deixá-lo com mais tranqüilidade. Uma amiga opinou que não concordava em "prender" as crianças, que elas deveriam ter liberdade e blá blá blá. É comum ouvir-se essa mesma argumentação contra a colocação de grades em apartamentos. Belo discurso. Mas só quem tem filho pequeno sabe da preocupação que é proteger os pimpolhos que começam a se deslocar sozinhos, mas sem noção de limites. Esses devem ser impostos fisicamente. Ficar de olho é uma boa opção, mas quem consegue fazer isso o tempo todo, sem um só momento de distração?

Minha opinião pode mudar mas, no momento, sou contra o fechamento dos parques. Mas não por esse discurso panfletário de que os parques pertencem ao povo e não se pode cercear o acesso dos cidadãos a um bem público. Apenas acho que, na prática, não resolve nada. As pessoas deveriam ser mais cautelosas e não transitar por locais perigosos à noite. Além disso, o cercamento forçosamente criaria gargalos em seus pontos de acesso, dificultando a entrada e saída de multidões no caso de eventos. Meu voto será contra, mas não sairei por aí com bandeiras e cartazes fazendo campanha pelo não fechamento. Estou pronto a acatar pacificamente a decisão da maioria. Mas que seja uma decisão consciente e não movida por teorias e ideais abstratos.