Esperar
Nos tempos anteriores ao Shopping Praia de Belas e seu providencial Corte Zero, eu cortava o cabelo em um cabeleireiro próximo à minha antiga casa. Ele atendia homens e mulheres em horário comercial e não marcava hora. Geralmente eu só tinha tempo no sábado. Muitas vezes desisti de cortar o cabelo porque preferia aproveitar minha tarde de sábado a ficar de três a quatro horas sentado esperando minha vez. Com isso, meu cabelo e principalmente minha barba iam crescendo a ponto de me deixar com cara de huno. Quando chegava num ponto em que realmente "não dava mais", aí eu cortava. E todos notavam.
O ideal, nessas ocasiões, seria sempre providenciar uma leitura. As revistas da sala de espera geralmente são chatas. Em fila de banco ou nos assentos de chamada por painel não tem revista, então é bom ter um livro à mão. A questão é que muitas vezes a gente não adivinha que vai ter que esperar. A tendência é ser otimista e achar que vai ser rápido. Mas nem sempre é. Considerando o quanto somos obrigados a esperar e entrar em filas o dia inteiro, deveríamos estar sempre carregando um livro. Claro que haveria o risco de se expor ao ridículo.
- Sempre que eu o encontro, você está com esse livro na mão. Pra quê?
- Esse é o meu livro de espera.
- Como assim?
- Se eu tiver que esperar, aproveito para ler.
- Esperar o quê?
- Sei lá, qualquer coisa!
E você ainda fica com fama de louco. Mesmo esperas curtas podem ser irritantes, principalmente se você está atrasado. Esperar elevador, por exemplo, é uma tortura. Enquanto isso, a fila vai-se avolumando. Se você tem claustrofobia, encara a perspectiva de entrar num elevador cheio. Ou esperar mais um pouco. Se for para descer, prefiro levar dois minutos de escada a esperar um minuto pelo elevador. No trânsito, prefiro levar 40 minutos indo para a casa a pé do que esperar 30 minutos num trânsito congestionado. O raciocínio básico é: não me importo de perder tempo por iniciativa própria, mas odeio que os outros percam o meu tempo.
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