Os sonhos e as surpresas
Mas o que mais me intriga nos sonhos com enredo são as surpresas. Explicando melhor: na vida real as surpresas acontecem por fatores externos. Se você encontra alguém na rua de forma inesperada, é porque a pessoa estava ali. Se alguém vem visitá-lo sem avisar antes, foi a iniciativa do visitante que ocasionou o fato. Já na ficção, como livros, filmes e novelas, as surpresas são premeditadas pelos autores. Só são realmente surpresas para os leitores ou espectadores. Foi tudo planejado pelo escritor. Mas quem prepara as surpresas nos sonhos? A gente mesmo? Como podemos ser surpreendidos por algo que saiu da nossa própria cabeça?
Imagine a cena. Você sonha que está chegando em alguma cidade. De repente, aparece um amigo que você não via há tempos, alguém que nem é freqüente no seu dia a dia. E você fica surpreso. Ora, quem colocou aquela pessoa no seu sonho? E por quê? Ou então, você está almoçando tranqüilamente num restaurante. Súbito, aparecem três homens armados e avisam que é um assalto. Se você soubesse que aquele restaurante seria assaltado, não estaria ali, correto? Mas você não sabia e foi surpreendido. E, no entanto, é tudo um sonho. Sua própria cabeça criou os assaltantes.
Já ouvi falar de compositores que sonham que ouvem uma música inédita num show ou no rádio e depois acordam com a canção pronta. E a sensação que têm é a de que não criaram nada, apenas conheceram uma composição alheia e a ganharam de presente, sem nenhum esforço. O mesmo deve acontecer com poetas e ficcionistas. Nosso cérebro é literalmente uma caixinha de surpresas. Que imaginação fantástica a nossa que cria histórias de suspense para surpreender a nós mesmos. Não deve ser assim tão simples, devem existir roteiristas secretos escrevendo enredos para os nossos sonhos. A gente não descobre quem é porque sempre acorda antes dos créditos finais.
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