Rita Lee
Comprei a revista acima, uma edição especial de "Violão e Guitarra", no dia 3 de janeiro de 1979. O LP mais recente de Rita Lee era o Babilônia, portanto antes de ela estourar com "Mania de Você" e conquistar um público mais amplo e diversificado. Era a Rita roqueira que essa publicação celebrava.
Tomei conhecimento da existência de Rita na infância, quando ela estava nos Mutantes. O grupo era sucesso absoluto no final dos anos 1960 e ainda ganhava uma exposição extra nos comerciais que fazia para a Shell, companhia para a qual compôs especialmente o jingle "Algo mais", mas também "Não vá se perder por aí" era usado nas peças publicitárias. Considero os Mutantes a melhor banda brasileira de todos os tempos e o segundo LP do grupo a obra-prima do rock nacional.
Rita veio a se tornar a roqueira-mor da América Latina em sua carreira-solo. O sucesso, mesmo, chegou em 1975 com o LP Fruto Proibido e o hit "Ovelha Negra". Mas o disco era todo maravilhoso. Rita se manteve 100% roqueira de Atrás do Porto tem uma Cidade (1973) até Babilônia (1978). Mais ou menos na época do último álbum citado, ela respondeu a perguntas de leitores da revista Pop e uma delas era se Rita iria entrar para a onda discotheque. A resposta dela foi: "Já entrei!"
Isso ficou claro no LP de 1979, nas faixas "Chega mais" e "Corre corre". Mas foi a balada "Mania de você" que de fato inaugurou uma nova fase fortemente influenciada pela parceria de seu marido, o guitarrista Roberto de Carvalho. Foi nessa época que eu comecei a ir a shows com mais frequência e talvez isto explique eu não ter visto Rita ao vivo nos anos 1980 (eu a vi em Curitiba em 1997, abrindo para David Bowie): eu decretei oficialmente que a Rita "pop" não me agradava. Foi como se ela estivesse traindo a causa roqueira. E não me entusiasmava a ideia de me misturar com um público que provavelmente nunca tinha ouvido falar em Atrás do Porto Tem uma Cidade. Hoje revejo minha opinião e reconheço que Rita criou um divertido estilo "disco carnaval", aproveitando para si mesma algumas ideias que ajudara a moldar para as Frenéticas. Adoro o álbum Saúde, por exemplo, de 1981. Em 1985, com o primeiro Rock in Rio, o rock brasileiro assumiu o comando e Rita voltou às origens com Rita e Roberto, mas numa proposta mais contemporânea. De qualquer forma, meus discos preferidos dela continuam sendo os dos Mutantes e os dos anos 1970.
Num país machista e misógino como o Brasil, o maior nome do rock nacional foi uma mulher. Rita, você foi única! Siga em paz, com a missão cumprida. Suas músicas não morrerão nunca.
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