Fughetti Luz (1947-2023)
A única entrevista presencial que fiz no período em que colaborei com o International Magazine foi com Fughetti Luz. Em 1996 ele estava lançando o seu primeiro CD solo, acompanhado de um songbook com as cifras de várias de suas músicas e uma biografia redigida pelo jornalista Gilmar Eitelwein. Pois foi com Gilmar que eu falei para tentar marcar um encontro com o cantor e obter um depoimento exclusivo. Naquele tempo, Fughetti morava em uma casa no bairro Jardim Sabará, em Porto Alegre. Cheguei ao local no começo de uma noite fria em que Fughetti se aquecia em frente a um fogão a lenha enquanto ouvia, orgulhoso, o seu disco. Recebeu-me com um abraço e um beijo no rosto. Gilmar também estava lá. Depois chegou o músico Duca Leindecker, que tocava no álbum.
Consegui gravar quase meia-hora de conversa com o lendário roqueiro. Ele não escondeu que se sentia desconfortável em "voltar ao passado", mesmo assim me deu quase todas as informações que pedi. Falou do Liverpool, nos anos 1960, do músico e colega de grupo Pecos, que havia falecido no ano anterior, no Bobo da Corte e, claro, no Bixo da Seda. Quando ele cantarolou um trecho de "Por favor sucesso" (do Liverpool) e "Um abraço em Brian Jones" (do Bixo da Seda) eu fiz questão de cantar junto, para mostrar que conhecia as músicas. Continuamos batendo um papo mesmo depois de desligado o gravador. Falei com Duca Leindecker, também. Ele ficou surpreso de saber que eu tinha o LP dele.
Saiu uma matéria de página inteira no IM. Em 2002, Fughetti fez um pocket show em um bar de Porto Alegre para lançar seu segundo CD, Xeque Mate. Falei com ele rapidamente e me identifiquei como o jornalista que o havia entrevistado em 1996. "Tu não me é estranho!", ele respondeu com um sorriso, simpaticíssimo.
Fughetti faleceu hoje. A causa da morte ainda não foi informada. Mas gostaria de deixar aqui um trecho do que ele me falou naquela noite fria de 1996, no bairro Jardim Sabará. Eu queria que ele contasse sobre a carreira dele, mas ele divagava, filosofava, e eu tinha que recolocá-lo no rumo da conversa. Num desses desvios de assunto, ele disse (a frase repetida foi exatamente como ele a pronunciou):
Ninguém morre. Nós somos passageiros intergalácticos. Nós estamos aqui de passagem. A obra permanece. E atravessa. (...) A morte é a coisa mais bonita que tem. Porque ninguém sabe do futuro. Assim como nascer, tem o dia de nascer e tem o dia de morrer. É a coisa mais bonita. Porque ninguém sabe do futuro. E isso é maravilhoso.
Boa viagem, passageiro intergaláctico.
P.S.: A foto acima foi tirada por mim durante a apresentação do Bixo da Seda no show coletivo "Heróis do Rock", no Auditório Araújo Vianna, em 8 de maio de 1998. Naquele tempo o Araújo tinha um fosso em frente ao palco e foi ali que fiquei para fotografar.
2 Comments:
Sempre tens histórias interessantes para contar Emílio!
Lasek
Obrigado!
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