terça-feira, outubro 06, 2020

Aparador de barba

Aos poucos, estou perdendo o medo de retomar algumas atividades de minha antiga rotina. Já há algum tempo voltei a dar caminhadas entre a Borges e a Padre Cacique, na calçada do Parque Marinha do Brasil, ou na Praça Itália. Fico sempre de máscara e escolho horários atípicos, em que com certeza haverá pouca gente ao redor. Só não tenho feito nos últimos dias porque apareceu uma lesão entre o tendão de Aquiles e a panturrilha, na perna esquerda. Posso usar a bicicleta estacionária, mas estou descobrindo um prazer diferente: a caminhada lenta, não como um exercício, mas uma terapia. Sigo devagar entre ruas menos movimentadas, ouvindo música ou um audiobook no meu iPod. Hoje tive uma consulta com a médica do meu filho no bairro Moinhos de Vento. Depois, em vez de voltar em seguida, deixei meu carro no estacionamento e dei a volta na quadra do DMAE. Passei em frente ao prédio em que morava meu saudoso amigo Paulo Brody, na Dr. Vale, enquanto escutava a última entrevista de John Lennon nos fones. Foi uma experiência relaxante e maravilhosa.

Ontem, paguei um Uber para trazer e levar minha faxineira de e para a residência dela, no bairro Mário Quintana. Enquanto ela dava uma geral no apartamento, fui no Shopping Praia de Belas. É a terceira vez que vou lá desde que começou a quarentena. Não tenho coragem de fazer qualquer refeição na praça de alimentação. Acho temerário frequentar restaurantes em geral, ambientes fechados em que, por razões óbvias, todos estão sem máscara. Mas o shopping é bastante espaçoso e eu aproveitei para dar, lá dentro mesmo, uma caminhada lenta, sem forçar o tendão. E era um horário de pouco movimento.

E fiz uma compra que já cogitava muito antes da pandemia, agora, então, mais útil do que nunca: um aparador de barba. Desde que deixei crescer a barba em 1985, tive algumas experiências de eu mesmo tentar diminuí-la com a tesoura. Cabelo grande demais até passa, mas barba enorme fica um horror. Na quarentena, eu já tinha me aventurado a dar umas tesouradas nela, com resultados variados. Com o aparador, foi tudo bem fácil. Perfeito, não ficou, mas quase. Escolhi corte dois e passei o aparelho em todo o rosto, inclusive no bigode. Depois, tirei o pente dosador e fiz o "desenho" na papada. Ali é que talvez eu tenha exagerado, deixando uma faixa muito estreita de pelos. Mas gostei. Agora, se eu quiser, posso ir na barbearia quase em frente à minha casa, que é bem arejada, e pedir que me cortem o cabelo sem que eu precise tirar a máscara. 

Mas enquanto eu não puder voltar a dar minhas caminhadas com meu filho e levá-lo em shoppings e restaurantes, não me sentirei plenamente satisfeito. Continuo visitando-o de vez em quando e levando umas comidinhas gostosas para ele. Ou levando-o no drive thru do McDonald's. E ele está bem, graças a Deus. Tomara que encontrem logo uma vacina ou, de alguma forma, o vírus comece a desaparecer. E reitero meu protesto contra os que teimam em não usar máscara.