terça-feira, janeiro 07, 2020

Vendedores versus consumistas

muitos anos, quando eu trabalhava em agência bancária, com direito a atendimento ao público e tudo o mais que a atividade acarreta, era comum o aparecimento de vendedores no local. Ofereciam de tudo: televisores, roupas, filtros de água, doces... No caso, isso acontecia no tempo em que ficávamos oito horas no local de trabalho e os shoppings eram quase inexistentes. Não tínhamos muitas opções de comércio no horário livre, exceto aos sábados. Então, pelo que pude observar, a tática dos vendedores muitas vezes funcionava. Tinha gente que ficava tanto tempo isolada do mundo exterior que nem se dava conta de desejar algum produto. Diante da oferta, ficavam tentados. E compravam.

Um belo dia, eu estava em minha mesa quando as estagiárias vieram me chamar correndo: tinha chegado um vendedor de discos! Logo lembraram de mim, é óbvio. Fui lá, examinei os LPs bem comuns e fáceis de achar que o cara tinha trazido, e não me interessei por nenhum. Até perguntei se ele não teria como conseguir os relançamentos dos Mutantes que tinham saído pela loja paulistana Baratos Afins. Ele não me deu certeza, mas disse que poderia tentar. Nunca mais voltou. Acabei encomendando os álbuns que eu queria pelo correio, mesmo. Isso foi pouco antes do boom das lojas de discos raros em Porto Alegre.

Sempre lembro desse episódio quando algum vendedor me procura para oferecer alguma coisa, seja por e-mail ou telefone (pessoalmente não acontece mais, hoje em dia). Já há bastante tempo concluí que o pior cliente para um vendedor de marketing ativo - aquele que te procura sem ter sido chamado - é o consumista. O consumista sabe o que quer e vai atrás. O consumista não tem dinheiro sobrando para aproveitar ofertas de vendedor porque já gastou no que realmente desejava. O consumista não espera que lhe ofereçam nada, ele é que procura as lojas e pontos de venda. 

Embora eu continue não muito assíduo como telespectador, acho TV por assinatura algo fantástico e revolucionário. Sempre quis assinar um serviço de canais especiais desde que surgiram os primeiros em Porto Alegre. Eu lembro que, da última vez em que adquiri um pacote da NET, fui eu que tomei a iniciativa de telefonar e fui bem enfático com relação aos canais que me interessavam. Internet, idem. Pois agora fico recebendo telefonemas de operadoras querendo me oferecer um serviço melhor, mais velocidade, mais isso, mais aquilo... Não quero! Estou satisfeito com o que já tenho e jamais mexo naquilo que está funcionando. E se tem algo em que eu não acredito é em ofertas de ganhar mais e pagar menos. Quando me fazem esse tipo de proposta, imagino que seja um subterfúgio para me induzir a contratar um serviço de pior qualidade. Recuso na hora.

Por mais contraditório que pareça, os consumistas odeiam ser procurados por vendedores. Eles gostam de comprar, mas por iniciativa própria, sem que ninguém lhes venha oferecer o que não foi solicitado.