Biografia de Augustinho Licks
Sílvia se encarregou de escrever sobre a primeira parte da vida de Augustinho, do nascimento ao final da parceria com Nei Lisboa. Sua pesquisa foi tão bem feita que é difícil acreditar que essa jornalista de Osasco-SP nunca morou em Porto Alegre. Ela resgatou com perfeição vários elementos da capital gaúcha dos anos 70 e 80: as ruas, os bairros, as emissoras de rádio, os shows, os teatros e os personagens. A edição Kindle (e-book) do livro foi dividida em duas partes e o "Lado A", como foi chamado o primeiro volume, pode ser adquirido gratuitamente tanto na Amazon brasileira quanto americana. É um marketing interessante, pois todos quererão saber como a história continua. E aí terão que pagar pelo "Lado B".
Fabrício Mazocco ficou responsável pela fase Engenheiros do Hawaii da carreira de Augustinho até os dias atuais. Como o jornalista também toca guitarra, fez questão de repassar aos leitores todos os detalhes técnicos que lhe foram transmitidos pelo músico: os modelos do instrumento que utilizou, os equipamentos, estúdios e técnicas usadas nas músicas do grupo, slaps, cross-tapping, slide bottleneck e, em especial, o uso da mão direita como pestana móvel em "Sampa no Walkman". Guitarristas irão se deliciar com as informações. Recomenda-se ler o livro com as gravações respectivas em prontidão para serem conferidas. Estão todas disponíveis no Spotify. Fabrício também fez seu dever de casa quanto ao contexto gaúcho do biografado, registrando a surpresa que a entrada de Augustinho nos Engenheiros do Hawaii causou aos seus conterrâneos. Ele não era visto como um roqueiro.
A história da saída de Augustinho dos Engenheiros já havia sido contada por Alexandre Lucchese em seu excelente livro "Infinita Highway, uma Carona com os Engenheiros do Hawaii", que continua sendo leitura obrigatória. Mas faltava a versão de Augustinho, que sempre fugia do assunto, e agora ela está aqui, em "Contrapontos". Fica-se sabendo exatamente como o guitarrista tomou conhecimento de que estava fora dos planos futuros, numa reunião com o baterista Carlos Maltz. E, a partir daí, a biografia acompanha os passos do ex-integrante na retomada de sua vida, de seus projetos, na constituição de uma família.
"Contrapontos" não apenas conta a vida de Augustinho, mas também presta-lhe as devidas homenagens, mencionando as ocasiões em que o músico foi premiado ou citado na imprensa como um dos melhores guitarristas do Brasil. Por tudo isso, é uma pena que ele tenha se afastado do show biz após os Engenheiros. Humberto Gessinger pode ter fundado o grupo e composto as músicas, mas o trio Gessinger-Licks-Maltz eternizou-se como a formação clássica dos Engenheiros do Hawaii, lembrada com saudade por todos os fãs. A contribuição de Licks foi fundamental e o livro comprova isso.
Apenas uma reclamação: a versão Kindle não inclui as fichas dos escritores que constam na orelha da edição impressa, como é de praxe. Diante de um trabalho tão bem feito, Fabrício Mazocco e Síliva Remaso merecem ter seus currículos divulgados. Quem não encontrar "Contrapontos" nas livrarias pode encomendá-lo diretamente no site da editora.
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