segunda-feira, janeiro 11, 2016

David Bowie (1947-2016)


Em 1973 eu era um menino de 12 anos já apaixonado por música, mas apenas iniciando no rock. Gostava de Beatles praticamente desde que começaram a sair os discos deles no Brasil, mas era principiante na apreciação de um som mais pesado. "School's Out", de Alice Cooper, havia sido o pontapé inicial. Mas comecei a ficar intrigado com um novo artista que surgia nas páginas da revista Pop. Chamava-se David Bowie, era inglês e tinha um visual impactante. Como Alice Cooper, ele também se maquiava, mas não tinha o aspecto macabro do cantor americano. Hoje percebo que ele se assemelhava a um super-herói alienígena e que muito da minha fascinação pelo glitter rock vinha de minha paixão de infância por histórias em quadrinhos. Minha curiosidade foi atiçada e fiquei imaginando que tipo de música faria aquele sujeito.
O vinil brasileiro de Aladdin Sane, com o nome de Bowie acima do título e não no canto superior direito.

Em dezembro, no meu aniversário de 13 anos, meu Tio Ivar quis me dar um LP de presente. Anotei três dicas para ele, em ordem de preferência. A primeira era: "O último de David Bowie." Nem sabia qual era ou quantos discos Bowie já tinha lançado. (As outras opções eram Billion Dollar Babies, de Alice Cooper, e They Only Come Out at Night, do Edgar Winter Group.) Lembro que dei uma saída e, quando voltei, meu tio já havia trazido o disco. Como Pin Ups ainda estava inédito no Brasil, o LP em questão era Aladdin Sane. Comecei ouvindo o disco pelo lado B (no tempo do vinil eu não prestava atenção em lado A, lado B, era indiferente para mim) e já me surpreendi que a primeira faixa fosse uma balada: "Time". Quando o disco terminou, eu estava simplesmente maravilhado com o que acabara de ouvir. Bowie era muito melhor do que Alice Cooper! Como eu sempre digo quando relembro esse dia, nos anos 50, o grande astro era Elvis Presley. A década de 60 pertenceu aos Beatles. Nos anos 70, não houve unanimidade: cada um escolheu o "seu" ídolo. Pois eu acabara de descobrir o meu.

Em 1974, com um pequeno atraso, saiu no Brasil o álbum Pin Ups. Minha mãe me deu 50 cruzeiros para comprar o disco. Como um LP custava 25 cruzeiros, acabei trazendo também o antológico The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, que encontrei na King's Discos. Pin Ups era um trabalho de covers, não me agradou tanto, mas Ziggy era espetacular. Cada vez mais eu via minha admiração por David Bowie confirmada. Em julho, viajei aos Estados Unidos e trouxe The Man Who Sold the World e o ótimo Hunky Dory. 
Confesso que me decepcionei um pouco quando Bowie deu sua guinada de estilo em 1975 com Young Americans. Era apenas o começo de uma série de mudanças que renderiam ao músico o apelido de "camaleão". Continuei comprando os discos com o dinheiro da minha mesada mas, no fundo, eu preferia que meu ídolo tivesse permanecido na mesma linha, como fizeram Alice Cooper, Iggy Pop e Lou Reed. Eu levaria algum tempo para "alcançar" o pique de Bowie e entender que a recusa em se estagnar num gênero e a insistência em sempre renovar o repertório de seus shows faziam parte de sua genialidade como artista. Hoje Young Americans é um de meus álbuns preferidos dele.


A primeira vez que vi Bowie numa situação de show foi no filme Christiane F, a que assisti em 1983. Depois viriam o videocassete, os lançamentos em VHS, DVD, Blu-ray e, claro, as apresentações dele no Brasil em 1990 e 1997. Viajei no mesmo avião que ele em 97, mas não o vi. Mesmo assim, o assessor dele, Alan Edwards, me ajudou a conseguir o autógrafo acima. Em 1998, Bowie criou uma competição entre os fãs para que escrevessem a letra de "What's Really Happening". Participei e ganhei menção honrosa junto com mais três concorrentes. Em 2014, comemorei 40 anos como fã dele indo assistir à exposição sobre ele no MIS, em São Paulo. Já escrevi sobre tudo isso aqui no Blog, de forma que apenas indicarei os links abaixo.

David Bowie foi o mais genial nome do rock da era pós-Beatles. Reinventou-se diversas vezes, recusou-se a virar nostalgia e parte com sua missão mais do que cumprida. Sua obra é um acervo maravilhoso a ser investigado e desfrutado. Lutava contra um câncer. Achei-o bastante envelhecido na última foto que vi. Agora está explicado. Por ironia do destino, faleceu três dias depois de lançar seu mais novo álbum, Blackstar, que saiu no dia de seu aniversário de 69 anos, 8 de janeiro. A perda é da família. Para nós, os fãs, ele continuará vivo nas músicas e vídeos que fazem parte de nossas vidas. 

Leiam também:

David Bowie no Olympia (SP) em 1990 
A exposição de David Bowie (São Paulo, 2014) 
David Bowie no Brasil em 1997
Relíquias de David Bowie 
Mais livros sobre David Bowie  
Fotos de Caetano e Bowie na Roundhouse 
Sonhando com a glória (sobre a competição para escrever a letra de "What's Really Happening", em que ganhei menção honrosa)
Ouça o disco, leia o livro (sobre o álbum Hunky Dory)
David Bowie da fase glam rock (sobre a caixa Five Years) 

10 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Boas lembranças as suas Emílio! Ótimo texto. Um abraço desde Belo Horizonte.

Vinícius

8:59 AM  
Anonymous Ricardo Barcellos said...

Baita texto! Se um dia tive curiosidade em ouvir Bowie, foi pra entender porque gostavas tanto dele. Tudo fez sentido.
Valeu tio!
Abraços!
Caco

9:49 AM  
Blogger El Thomazzo said...

Emilio, meus pêsames, você foi uma das primeiras pessoas em quem pensei quando li essa notícia, que estragou a segunda feira de todo mundo. Um abraço.

10:35 AM  
Anonymous Anônimo said...

Logo que soube do acontecido fiquei esperando o que o Emílio iria escrever sobre David Bowie e está aí este excelente texto! Também sempre gostei do David, claro que nada comparável ao que o amigo gosta e sabe a respeito deste "monstro" da música.Em termos de minha predileção só o comparo a Elton john!
Abração!
Lasek

3:10 PM  
Anonymous Anônimo said...

Emocionante seu texto ! Entrei no google para pesquisar sobre o show do Close-up Planet em 97 aqui em São Paulo e caí no seu blog. Que achado ! Em um dia triste como hoje, é confortante encontrar textos de fãs e ver que não estamos sozinhos na tristeza. Obrigada Emilio.

5:51 PM  
Blogger José Elesbán said...

É isso aí, Emílio, o assunto era inescapável hoje.
Lamentei muito a morte de Bowie.
E, sim, pensei em ti que tens falado bastante dele nesse teu blog.
Muito bom o teu texto das tuas recordações do artista.
Abraço.

8:07 PM  
Blogger vicveras said...

Somos Bowieiros !


9:51 PM  
Anonymous Vicente said...

Somos Bowieiros !

9:53 PM  
Anonymous Carmen Reqioa said...

Poxa , hj faz dois meses que o Bowie partiu e eu estou aqui meio p/ baixo e ler o seu texto me fez tanto bem , eu pensava que só eu era a "doentinha"sobre Bowie. Tenho 44 anos , curto ele desde os 14 , comecei nos anos 80 e voltei aos 70 , dai fiquei fanática!!Também tive que me adaptar as mudanças do nosso gênio e entendo tudo o que vc falou!!Valeu cara!!!

2:35 PM  
Anonymous Carmen Reqioa said...

Poxa , hj faz dois meses que o Bowie partiu e eu estou aqui meio p/ baixo e ler o seu texto me fez tanto bem , eu pensava que só eu era a "doentinha"sobre Bowie. Tenho 44 anos , curto ele desde os 14 , comecei nos anos 80 e voltei aos 70 , dai fiquei fanática!!Também tive que me adaptar as mudanças do nosso gênio e entendo tudo o que vc falou!!Valeu cara!!!

2:37 PM  

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