Dando conselhos
Um texto meu que ainda recebe visitas e comentários é "O fim do sentimento". Quando eu o escrevi, em abril de 2005, estava refletindo sobre os meus relacionamentos que não tinham dado certo, em especial o mais recente. Hoje confesso que minha intenção original era usar a palavra amor, mas achei que ficaria piegas demais, então troquei por "sentimento". Logo uma visitante do Blog postou um comentário (que não está mais lá, pois foi removido automaticamente quando o Haloscan encerrou seus serviços), desabafando sobre o problema que enfrentava em seu casamento. Achei que valia a pena responder a ela em um novo texto e foi o que fiz, sob o título de "Conselheiro Sentimental" (hoje mudado para "Resposta a um comentário"). Ao final, acrescentei, de brincadeira: "Cartas para Emílio Pacheco, conselheiro sentimental. Sempre às ordens."
Certa vez um professor da Faculdade contou uma história bem curiosa. Ele e uma colega deixaram gravado um programa para ir ao ar no Ano Novo, dizendo que estavam sozinhos, no estúdio, trabalhando durante o Reveillon. Na realidade os dois estavam comemorando com suas famílias enquanto a gravação foi ao ar. Logo ele recebeu um telefonema da rádio: ouvintes haviam se compadecido da "solidão" dos radialistas e enviado uma ceia completa de Ano Novo para o estúdio. Ao final do seu relato, o mestre sentenciou: "Com comunicação, não se brinca!"
Na época em que ouvi esse episódio, ainda não havia Internet. Mas ela surgiu depois e também é uma forma de comunicação. E, de fato, a brincadeira que eu fiz ao final do meu texto logo começou a surtir efeito. Comecei a receber e-mails de pessoas angustiadas, sofrendo por amor, querendo meus conselhos. Em um caso, até procurei dar uma resposta, sempre com a ressalva de que nada substituía o apoio de um profissional. Mas imediatamente tirei as frases finais onde me anunciava como conselheiro e acrescentei uma observação bem no começo, dizendo que o título era apenas uma brincadeira. "Não sou conselheiro sentimental", deixei bem avisado. E, por algum tempo, os pedidos de aconselhamento pararam de chegar.
Mesmo assim, de vez em quando, alguém ainda me acha. Devem ser pessoas tão aflitas que nem prestam atenção na minha retificação no começo do tópico. Ontem aconteceu de novo. Recebi uma mensagem de uma moça que está em crise no casamento. Sem dar muitos detalhes, ela diz que o relacionamento esfriou e suplica em suas duas últimas palavras: "me ajude".
Amiga, como eu disse, não sou conselheiro sentimental. Sou apenas um cara que não tem medo de assumir que é romântico e sensível e que já sofreu por amor. Nas vezes em que escrevi sobre relacionamentos, eu me baseei apenas em minhas observações e experiências pessoas. Neste exato momento, eu estou do mesmo lado que você, isto é, dos que precisam de conselhos. Meu último namoro acabou no começo do ano e minha cabeça está quase tão confusa quanto a sua.
No seu caso, sua mensagem curta e urgente deixou claro nas entrelinhas que você ainda quer salvar seu casamento. Então fale abertamente com seu marido. Diga a ele que a situação ficou insustentável, mas que você ainda gosta dele e não quer desmanchar a família e o lar que construíram. E sugira a ele uma terapia de casal. É a única saída e o único conselho sólido que eu posso lhe dar. Se não der certo, paciência, mas é importante você sair dessa experiência com a certeza de que fez tudo o que estava a seu alcance para tentar salvar a relação. Tudo de bom para você.
Desculpem, mas eu não iria deixar uma pessoa desesperada sem uma palavra de apoio. E eu não teria como responder diretamente a ela, pois não tenho o e-mail. Repito: não sou conselheiro sentimental. Estou mais na situação de receber do que de dar conselhos. Mas não custa tentar ajudar.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home