quarta-feira, outubro 15, 2008

Dia do Professor

Não sei se eu seria bom professor. Ter conhecimento é uma coisa, didática é outra muito diferente. Lembro de um treinamento informal que eu e um colega demos para uma equipe que iria assumir nosso trabalho em que, lá no fundo, um sujeito se esforçava para manter os olhos abertos. Tive professores que eram notadamente apaixonados por suas matérias, tinham um conhecimento extraordinário, mas suas aulas eram chatas. Já outros transmitiam muito, mas dependia do interesse do aluno captar ou não. Existem também aqueles cujas piadas a gente nunca esquece, mas o que eles ensinavam, mesmo?

Eu tive uma fase de querer ser professor de inglês. Não como principal atividade, mas tive. Eu ficava sabendo de colegas que, bem jovens, eram convidados para lecionar e pensava que poderia encarar a atividade também. Na verdade os professores do meu curso de certa forma eram meus ídolos. Eu, como fã, queria imitá-los. Cheguei a fazer um teste e acho que não me saí mal. Mas fui recusado por não estar cursando Letras. Na época, com apenas 19 anos, cheguei a pensar que pudesse ter sido pela idade. Tinha gente mais jovem do que eu ensinando, mas não com a minha aparência de pré-adolescente. Depois soube de outros que foram rejeitados pelo mesmo motivo, então acho que estavam falando a verdade.

Pode ser um mecanismo de defesa, mas hoje acho que eu não seria um bom professor de inglês. Pelo seguinte motivo: a matéria sempre foi fácil para mim. Muita coisa eu "captei" com minhas leituras. Então como lidaria com alunos que têm dificuldade? Como explicaria certos aspectos do idioma que, para mim, nunca precisaram ser explicados? Seria como tentar ensinar música para quem não tem ouvido. Sei que há professores que têm esse dom. Eu provavelmente não teria.

Certa vez o cantor Art Garfunkel, lembrando seu passado de professor particular de matemática, disse que dava aulas de 50 minutos, mas nunca olhava para o relógio. Apenas ministrava uma perfeita aula de 50 minutos. É assim que todas as aulas deveriam ser: uma entidade fechada, completa em si mesma, com princípio, meio e fim. Na faculdade, tive um professor que não sabia fazer assim. Ele não tinha "finalização". A aula dele era um contínuo. Ensinamentos a granel contidos num recipiente de horário. Apaixonado pela matéria, ele seguia falando linearmente, sem se preocupar com a hora. Se os alunos deixassem, ele só pararia no final do semestre. Ou na formatura. De repente, ele se dava conta e dizia: "Mas não dá mais tempo, vamos ter que continuar na próxima aula". Ele não encerrava, interrompia. Eu, particularmente, acho que nenhum professor de faculdade deveria dar aula até o último minuto, em especial no turno da noite. Nos últimos cinco minutos, ninguém capta mais nada.


De qualquer forma, já disse antes e vou repetir agora que tenho uma admiração imensa pelos professores. Não existe categoria mais injustiçada em nosso país. Eles constróem nosso conhecimento, formam cidadãos e são muito mal remunerados. Quem sabe a grande virada para realmente fazer o Brasil crescer e se desenvolver não começaria pela valorização do ofício de professor. A menos que você prefira ser, como escrevem alguns iluminados, "auto de data" (sic). O que é a prova cabal do quanto os professores são necessários.

Antes tarde do que nunca, feliz Dia do Professor!